A. Maria
Se entregar e viver. Parece que a gente só sabe que podia se jogar depois que o tempo de se jogar passa. E ai esse tempo de curtir o melhor de tudo já se foi.
No começo é fácil curtir. Porque a gente nem pensa na hora seguinte, quanto mais no amanhã.
Mas ai inevitavelmente o amanhã vem e o depois também. E aí? E depois?
E agora como é que a gente faz? (lembra?)
Às vezes tudo parece fácil. Se joga e pronto, camarada.
Sim sim, só que muitas vezes o pronto vem acabado. E aí, como é que eu fico já que ta tudo acabado?
Acabada mais uma experiência que testávamos, como cientistas em seus laboratórios. Só que eles registram tudo e partem para outra, ou para um aperfeiçoamento daquela outra. E nós às vezes não conseguimos registrar nada e choramos, morremos.
Sim sim, somos cientistas, experimentamos a vida, as sensações, as pessoas, os cheiros e os beijos. Só que às vezes o resultado da experiência é tão satisfatório que ficamos como aqueles caras que depois que descobrem um fenômeno massa, ficam o resto de suas vidas falando sobre ele, olhando para ele e refazendo todos os procedimentos ao invés de partir para descobrir o novo.
E esse é o grande perigo. Essa é a armadilha. Esse é o fim.
Não quero ficar olhando, parada, para aquela experiência maravilhosa que me fizeste descobri. Temos que partir para o desconhecido. Mas isso não implica dizer que preciso partir para começar outra experiência. Talvez o que seja preciso, é somente aperfeiçoar o resultado obtido, acrescentar e diminuir, aqui e ali, te dar e te roubar alguma coisa, misturar nossos cheiros e nossas cores, talvez.
Mas sabe o que é? É que o resultado que obtive, ganhou vida e tem vontades. E aí eu não posso mais tirar e botar quando eu quiser, fazer e desfazer como eu quiser. E pra “piorar”, ele sabe o que quer. Sabe tanto que me dá arrepios.
É que eu sou tão cientista que quero sempre controlar tudo e termino achando que o resultado é você. Dizem que é um mal do leonino. Dizem que sou do signo de leão. Mas nem tudo o que dizem está certo. Nem tudo que dizem é a verdade. E eu nem sei se existe mesmo a verdade.
Mas uma coisa é verdade. É verdade nem que seja aqui, através destas palavras.
E essa verdade é que no fim na experiência do meu hoje, descobri que de todo o desejo que eu tenho, metade foi tu que me deu. E aí concluo que você não é o resultado da minha experiência. Concluo que o resultado é o que estamos procurando e que tu estás do meu lado, testando em mim assim como eu em tu.
E mais uma vez, perplexa, doida e delirante, vejo que de todo o desejo que eu tenho, metade foi tu que me deu.
sábado, 14 de novembro de 2009
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Lambanças
A. Elisa
É chato ter que lembrar de você toda vez que aquela música do Oasis toca, até porque ela toca toda vez na rádio, que eu escuto no caminho para as aulas de inglês, todo sábado. Também detesto ter que lembrar de você todo fim de tarde de sexta-feira, quando você me ligava dizendo, que estava com saudades e querendo sair para comer, aquela pizza, que eu não curto muito, porque a massa é fofa e, principalmente, porque você sempre pede borda de catupiry, que eu detesto. Nisso, já são dois dias da semana que eu penso em você.
Ainda lembro de você, quando passo numa banca de revista e vejo as de Sudoku, que você adorava fazer enquanto eu demorava horas escolhendo uma roupa para sair. Teu rosto me vem na cabeça, quando eu vou naquele bar, que a gente freqüentava e vejo, que alguém pediu aquela bendita caipiroska, que me fez dizer “eu te amo”, na segunda vez que a gente saiu juntos. Lembro do teu rosto, ao mesmo tempo feliz e confuso, lembro também do dia seguinte, quando a gente acordou junto e você me disse, bem baixinho “eu também”, e eu senti, que o mundo podia acabar, porque eu já tinha ali, do meu lado, tudo o que eu queria pra ser feliz.
E assim a semana vai passando, e eu vou encontrando motivos pra lembrar de você todos os dias, por quase todos os minutos e é um saco isso! Eu queria poder ouvir Oasis sem lembrar do teu cheiro. Queria poder sair na sexta com meus amigos e não pensar das vezes que eu voltava pra casa morrendo de fome, porque me recusava a comer da mesma pizza de sempre, e aí você ficava com pena de mim e me comprava um Big Mac.
Quero poder comprar minhas revistas sem lembrar dos teus gostos, quero poder me arrumar sem pensar na cara, que você fazia quando eu trocava de roupa pela quinta vez. Quero dormir sem pensar no teu “eu também”, e quero acordar sem procurar com a minha mão a tua barriga, que eu gostava tanto de acariciar. Quero os dias da minha semana de volta. Quero a minha vida de volta. Quero que você saia dela e arranje outra cabeça para atormentar. Quero me esquecer de você, mas sobretudo, quero que meu corpo te esqueça.
É chato ter que lembrar de você toda vez que aquela música do Oasis toca, até porque ela toca toda vez na rádio, que eu escuto no caminho para as aulas de inglês, todo sábado. Também detesto ter que lembrar de você todo fim de tarde de sexta-feira, quando você me ligava dizendo, que estava com saudades e querendo sair para comer, aquela pizza, que eu não curto muito, porque a massa é fofa e, principalmente, porque você sempre pede borda de catupiry, que eu detesto. Nisso, já são dois dias da semana que eu penso em você.
Ainda lembro de você, quando passo numa banca de revista e vejo as de Sudoku, que você adorava fazer enquanto eu demorava horas escolhendo uma roupa para sair. Teu rosto me vem na cabeça, quando eu vou naquele bar, que a gente freqüentava e vejo, que alguém pediu aquela bendita caipiroska, que me fez dizer “eu te amo”, na segunda vez que a gente saiu juntos. Lembro do teu rosto, ao mesmo tempo feliz e confuso, lembro também do dia seguinte, quando a gente acordou junto e você me disse, bem baixinho “eu também”, e eu senti, que o mundo podia acabar, porque eu já tinha ali, do meu lado, tudo o que eu queria pra ser feliz.
E assim a semana vai passando, e eu vou encontrando motivos pra lembrar de você todos os dias, por quase todos os minutos e é um saco isso! Eu queria poder ouvir Oasis sem lembrar do teu cheiro. Queria poder sair na sexta com meus amigos e não pensar das vezes que eu voltava pra casa morrendo de fome, porque me recusava a comer da mesma pizza de sempre, e aí você ficava com pena de mim e me comprava um Big Mac.
Quero poder comprar minhas revistas sem lembrar dos teus gostos, quero poder me arrumar sem pensar na cara, que você fazia quando eu trocava de roupa pela quinta vez. Quero dormir sem pensar no teu “eu também”, e quero acordar sem procurar com a minha mão a tua barriga, que eu gostava tanto de acariciar. Quero os dias da minha semana de volta. Quero a minha vida de volta. Quero que você saia dela e arranje outra cabeça para atormentar. Quero me esquecer de você, mas sobretudo, quero que meu corpo te esqueça.
sábado, 31 de outubro de 2009
Para viver um grande amor
V. de Moraes
Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... - não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro - seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um grande amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fieldade - para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito - peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista - muito mais, muito mais que na modista! - para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs - comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica, e gostosa, farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto - pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente - e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia - para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que - que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva escura e desvairada não se souber achar a bem-amada - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... - não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro - seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um grande amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fieldade - para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito - peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista - muito mais, muito mais que na modista! - para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs - comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica, e gostosa, farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto - pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente - e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia - para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que - que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva escura e desvairada não se souber achar a bem-amada - para viver um grande amor.
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Dia desses...
A. Elisa
Dia desses não tive sono, e nessa angústia de não conseguir dormir, me revirando de um lado pro outro, procurando me encaixar na cama, me peguei pensando em como a gente se encaixava bem. Era quase que automático, a gente dormindo, um ia se chegando pro outro e ficávamos assim até amanhecer. Você acordava sempre antes de mim e ficava me olhando, ali, enrolada com o lençol até o pescoço, porque você insistia em deixar o ar condicionado bem gelado, e também porque você não me deixava cobrir com uma manta. Talvez fosse por isso, que a gente dormia sempre bem juntinho. Depois que eu acordava e reclamava, pela milésima vez, que eu não queria que você ficasse me olhando dormindo, a gente tomava banho e eu assistia Pequenas Empresas/Grandes Negócios com você, só porque sabia que se eu dissesse, que não gostava do programa, você mudava de canal. E assim a gente ia passando o dia todo na cama, sem ver as horas passarem, levantando de vez em quando pra comer alguma coisa ou ir no banheiro. Me peguei pensando nisso e também no porquê da gente ter deixado de fazer tudo isso. No porquê de a gente agora dormir separado, no porque de eu estar nessa cama vazia sem conseguir dormir, sentindo falta do nosso encaixe. A distância faz a gente perceber que aquelas menores coisas são as que sentimos mais falta, como quando você botava leite no meu café, mesmo sabendo que eu só gosto de café puro; como você sempre aparecia com um filme romântico pra gente assistir, quando sabia que eu estava com TPM; ou como no dia que eu soube que tinha passado no mestrado, e que por conta disso ia morar na Espanha por dois anos, e você viu o nosso final eminente, e me disse “você mereceu!”.
Aqui, esses dois anos custam a passar, e o sono custa a chegar. Mas aí, agora que eu lembrei dessas tuas palavras, me lembrei que eu decidi isso, sabe? Que eu procurei isso e, que você esteve comigo durante todo o processo e que você me disse que sabia, que o nosso futuro era certo e tudo estava guardado, que se não fosse agora, ou daqui a dois anos, um dia a gente ia se encaixar naquela cama de novo. E então começou me dar uma tranqüilidade, um sono, um sono imenso e sem nem ao menos ter que te ligar, dessa vez, só de lembrar das tuas certezas eu continuei de pé para mais um dia de estudo.
Dia desses não tive sono, e nessa angústia de não conseguir dormir, me revirando de um lado pro outro, procurando me encaixar na cama, me peguei pensando em como a gente se encaixava bem. Era quase que automático, a gente dormindo, um ia se chegando pro outro e ficávamos assim até amanhecer. Você acordava sempre antes de mim e ficava me olhando, ali, enrolada com o lençol até o pescoço, porque você insistia em deixar o ar condicionado bem gelado, e também porque você não me deixava cobrir com uma manta. Talvez fosse por isso, que a gente dormia sempre bem juntinho. Depois que eu acordava e reclamava, pela milésima vez, que eu não queria que você ficasse me olhando dormindo, a gente tomava banho e eu assistia Pequenas Empresas/Grandes Negócios com você, só porque sabia que se eu dissesse, que não gostava do programa, você mudava de canal. E assim a gente ia passando o dia todo na cama, sem ver as horas passarem, levantando de vez em quando pra comer alguma coisa ou ir no banheiro. Me peguei pensando nisso e também no porquê da gente ter deixado de fazer tudo isso. No porquê de a gente agora dormir separado, no porque de eu estar nessa cama vazia sem conseguir dormir, sentindo falta do nosso encaixe. A distância faz a gente perceber que aquelas menores coisas são as que sentimos mais falta, como quando você botava leite no meu café, mesmo sabendo que eu só gosto de café puro; como você sempre aparecia com um filme romântico pra gente assistir, quando sabia que eu estava com TPM; ou como no dia que eu soube que tinha passado no mestrado, e que por conta disso ia morar na Espanha por dois anos, e você viu o nosso final eminente, e me disse “você mereceu!”.
Aqui, esses dois anos custam a passar, e o sono custa a chegar. Mas aí, agora que eu lembrei dessas tuas palavras, me lembrei que eu decidi isso, sabe? Que eu procurei isso e, que você esteve comigo durante todo o processo e que você me disse que sabia, que o nosso futuro era certo e tudo estava guardado, que se não fosse agora, ou daqui a dois anos, um dia a gente ia se encaixar naquela cama de novo. E então começou me dar uma tranqüilidade, um sono, um sono imenso e sem nem ao menos ter que te ligar, dessa vez, só de lembrar das tuas certezas eu continuei de pé para mais um dia de estudo.
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Vamos entrar.
A. Maria
Me dê uma noite e um pouco da manhã, só preu sacar se os olhos mudam de cor.
Só pra eu saber se eu sou só eu, ou já deixei de ser.
Pra saber se são eles ou as cores que mudam.
Se eu já deixei de ser ou misturei.
Onde será que toda aquela coragem, confiança e força se esconde quando eu me pego assim como agora?
Cá estou eu mais uma vez jogando letras na tela pra ver se elas me ajudam a descobrir, já que aqui na minha caixola elas não estão colaborando muito.
É, acho que o homem não esta adaptado a mudanças. E quando ela vem, parece que tiraram o chão dos seus pés.
Ele também não sabe perder. Não se conforma em ter que perder.
Será mesmo que é o homem? Ou a mulher? Eu?!
Parece que junto com o sangue que perco todo mês, de tempos em tempos, como um filho que nasce, sabe? É, parece que de nove em nove meses, em média, junto com esse sangue perco mais uma porrada de coisas.
Esse mês parece que foi o escolhido.
E a cada dia tenho mais certeza que perdi uma flor, minha flor, e eu também era flor dela.
É, isso foi ruim.
Perdi também toda aquela confiança em mim, sabe? Aquela que me fazia crer que podia tudo. Aquela que vinha junto com minha coragem e certeza.
Mas isso não sei se foi de todo ruim, já que talvez isso me tenha feito encontrar outra coisa que como ainda é talvez, prefiro ficar procurando a certeza.
Perdi também a paciência de esperar o telefone tocar, de esperar o fim de semana pra tomar cerveja e de esperar a digestão se completar pra comer mais chocolate.
Mas aí também não creio na coisa como ruim.
Perdi meu brinco de bolinha e meu cheiro de independência.
Parece que quando perco uma coisa, saio perdendo tantas outras.
Perco a hora do cinema, a hora do banco e a hora de parar.
Parar. Parar.
Quando essa enchurrada que me leva tantas coisas, junto com o sangue vermelho escuro, vai enfim sossegar e deixar que o sol seque minhas roupas, meus cabelos e minha pele. E aí me deixar procurar e encontrar de volta tudo que perdi.
Quando será que eu vou poder ter a certeza de que na verdade me encontrei.
Que na verdade...
Achei.
Me dê uma noite e um pouco da manhã, só preu sacar se os olhos mudam de cor.
Só pra eu saber se eu sou só eu, ou já deixei de ser.
Pra saber se são eles ou as cores que mudam.
Se eu já deixei de ser ou misturei.
Onde será que toda aquela coragem, confiança e força se esconde quando eu me pego assim como agora?
Cá estou eu mais uma vez jogando letras na tela pra ver se elas me ajudam a descobrir, já que aqui na minha caixola elas não estão colaborando muito.
É, acho que o homem não esta adaptado a mudanças. E quando ela vem, parece que tiraram o chão dos seus pés.
Ele também não sabe perder. Não se conforma em ter que perder.
Será mesmo que é o homem? Ou a mulher? Eu?!
Parece que junto com o sangue que perco todo mês, de tempos em tempos, como um filho que nasce, sabe? É, parece que de nove em nove meses, em média, junto com esse sangue perco mais uma porrada de coisas.
Esse mês parece que foi o escolhido.
E a cada dia tenho mais certeza que perdi uma flor, minha flor, e eu também era flor dela.
É, isso foi ruim.
Perdi também toda aquela confiança em mim, sabe? Aquela que me fazia crer que podia tudo. Aquela que vinha junto com minha coragem e certeza.
Mas isso não sei se foi de todo ruim, já que talvez isso me tenha feito encontrar outra coisa que como ainda é talvez, prefiro ficar procurando a certeza.
Perdi também a paciência de esperar o telefone tocar, de esperar o fim de semana pra tomar cerveja e de esperar a digestão se completar pra comer mais chocolate.
Mas aí também não creio na coisa como ruim.
Perdi meu brinco de bolinha e meu cheiro de independência.
Parece que quando perco uma coisa, saio perdendo tantas outras.
Perco a hora do cinema, a hora do banco e a hora de parar.
Parar. Parar.
Quando essa enchurrada que me leva tantas coisas, junto com o sangue vermelho escuro, vai enfim sossegar e deixar que o sol seque minhas roupas, meus cabelos e minha pele. E aí me deixar procurar e encontrar de volta tudo que perdi.
Quando será que eu vou poder ter a certeza de que na verdade me encontrei.
Que na verdade...
Achei.
domingo, 18 de outubro de 2009
Aqui dentro
A. Elisa
E aquela minha pequena parte, que fica atrás do meu peito, começou a bater de novo e não tem cristão que a sossegue. É um bate-bate que não me deixa dormir, que não consigo me concentrar, escrever, não sou eu. Essa fúria, essa vontade de viver, fazia tempo que eu não sentia e, principalmente, fazia tempo que eu não me deixava sentir. Não sei como foi, nem sei dizer o exato momento que minhas veias começaram a saltar, minhas mãos a suar e o meu pensamento a não mudar de assunto. Também nem quero pensar como começou, o que deu em mim de me arriscar assim, violentamente, num precipício que nem o fundo eu vejo. Me joguei como fazia tempo que eu não me permitia. E aí eu comecei a pensar que eu deveria começar a me jogar em mais coisas na minha vida, curtindo somente os resultados bons e minimizando os ruins. Porque a razão pra esse meu peito não sossegar, ultimamente, foi simplesmente o fato de não ter criado expectativas, de ter ido a favor da maré, e de vez em quando, contra o vento. E, apesar das borboletas terem parado de bater na minha barriga, parece agora que elas voaram pro meu coração, sim, essa parte de mim, detrás do meu peito, que decidiu, que não vai me deixar curtir três dias com meu irmão e minha prima em Porto de Galinhas, que decidiu que de agora em diante vai bater acelerado todo dia, que decidiu que não vai sossegar, porque não quer que eu volte a viver aquela minha mesmice de sempre, esperando por coisas que nunca viriam. E de tanto esse meu coração decidir fazer as coisas por mim, eu acabei decidindo, que de agora em diante só ele pode fazer esse tipo de escolha por aqui.
E aquela minha pequena parte, que fica atrás do meu peito, começou a bater de novo e não tem cristão que a sossegue. É um bate-bate que não me deixa dormir, que não consigo me concentrar, escrever, não sou eu. Essa fúria, essa vontade de viver, fazia tempo que eu não sentia e, principalmente, fazia tempo que eu não me deixava sentir. Não sei como foi, nem sei dizer o exato momento que minhas veias começaram a saltar, minhas mãos a suar e o meu pensamento a não mudar de assunto. Também nem quero pensar como começou, o que deu em mim de me arriscar assim, violentamente, num precipício que nem o fundo eu vejo. Me joguei como fazia tempo que eu não me permitia. E aí eu comecei a pensar que eu deveria começar a me jogar em mais coisas na minha vida, curtindo somente os resultados bons e minimizando os ruins. Porque a razão pra esse meu peito não sossegar, ultimamente, foi simplesmente o fato de não ter criado expectativas, de ter ido a favor da maré, e de vez em quando, contra o vento. E, apesar das borboletas terem parado de bater na minha barriga, parece agora que elas voaram pro meu coração, sim, essa parte de mim, detrás do meu peito, que decidiu, que não vai me deixar curtir três dias com meu irmão e minha prima em Porto de Galinhas, que decidiu que de agora em diante vai bater acelerado todo dia, que decidiu que não vai sossegar, porque não quer que eu volte a viver aquela minha mesmice de sempre, esperando por coisas que nunca viriam. E de tanto esse meu coração decidir fazer as coisas por mim, eu acabei decidindo, que de agora em diante só ele pode fazer esse tipo de escolha por aqui.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Sono
A. Maria
É tudo preguiça.
Medo também.
Ok, é tudo medo e preguiça.
Medo de mais um fim. Afinal todos sabem que ainda não aprendi a lidar com fins.
Preguiça de tomar banho frio, trocar de roupa, arrumar a cama e rezar.
Medo de não dar mais tempo de voltar atrás, de ter falado demais. É que nem todo mundo sabe que pra cair no abismo eu não me importo em ter que impulsionar meu próprio corpo ao invés de esperar o velho empurrãozinho.
Preguiça de ter que esperar.
Medo de cair e ter que precisar escalar tudo de novo por não encontrar minha casa lá embaixo. E ter de subir, reconstruir a velha cabana, (esta que ainda moro) e ficar nela até visualizar outro ponto pra me jogar.
Preguiça de escovar os dentes.
Medo de nem me jogar, e simplesmente acordar covarde amanhã, e ficar esperando que alguém me jogue, ou que você me puxe.
Preguiça de deixar começar mais um dia de gente grande.
Os meus, bem sabem que não seguro nem recuso os comandos dessa coisa que carrego atrás de meu peito. Mas é que às vezes não basta que só eles saibam. Às vezes queria poder estampar isso nos outdoors da cidade, do mundo. Mas mesmo sabendo que se quiser mesmo posso fazer, sei que não vou conseguir atingir o que quero, porque palavras, minhas palavras, são só tentativas.
Palavras são somente tentativas. São somente meios que uso muitas vezes para tirar de mim um pouco do tanto que carrego aqui dentro. É que às vezes fica tão apertado que aperta meu coração e aí sinto o que acho que chamam de angústia. É, acho que chamam porque com freqüência percebo que as palavras que as pessoas dão as coisas tem significados absurdos diante do que essas coisas significam.
É, escrever para mim é como procurar a chave que dá pra estrela no Super Mário. E acabei de encontrar a do estágio chamado hoje.
As palavras que eu uso vêm sempre carregadas de significados errados. Errados para você, já que pra mim significa o que eu quero que signifique. Mas o fato é que descobri que quando me sinto como dizem, angustiada, é que tem muita coisa querendo sair, mas eu ainda não descobri como botar pra fora. E quando isso acontece (boto pra fora), passa. Claro que às vezes demora, mas quando encontro ouvidos dispostos, é rapidinho.
Pronto. O sono veio e botou a preguiça pra fora. Na verdade acho que consegui botar tudo pra fora e agora nem tenho mais medo de nada. Nem preguiça.Aí o sono virou o dono do pedaço.
É que quando to com sono, perco o controle do que falo (ou escrevo). Mas aí fico vazia e o sono toma conta.
Ah, tenho só um pouco de medo. Mas esse medo é meu companheiro de sempre, tipo aquele bicho que o meu Zé acha que mora no armário.
É, agora eu só tenho medo.
E sono.
Ah, mas é um medo bobo.
Medo que vou sentir quando acordar.
Medo porque hoje descobri que não adianta tentar fingir ou querer o contrário. Nem tanto descobri, talvez só aceitei. Que para essa Ana Maria que carrego aqui em mim, nada, nada é casual, tudo deve ser intenso. E verdadeiro.
É tudo preguiça.
Medo também.
Ok, é tudo medo e preguiça.
Medo de mais um fim. Afinal todos sabem que ainda não aprendi a lidar com fins.
Preguiça de tomar banho frio, trocar de roupa, arrumar a cama e rezar.
Medo de não dar mais tempo de voltar atrás, de ter falado demais. É que nem todo mundo sabe que pra cair no abismo eu não me importo em ter que impulsionar meu próprio corpo ao invés de esperar o velho empurrãozinho.
Preguiça de ter que esperar.
Medo de cair e ter que precisar escalar tudo de novo por não encontrar minha casa lá embaixo. E ter de subir, reconstruir a velha cabana, (esta que ainda moro) e ficar nela até visualizar outro ponto pra me jogar.
Preguiça de escovar os dentes.
Medo de nem me jogar, e simplesmente acordar covarde amanhã, e ficar esperando que alguém me jogue, ou que você me puxe.
Preguiça de deixar começar mais um dia de gente grande.
Os meus, bem sabem que não seguro nem recuso os comandos dessa coisa que carrego atrás de meu peito. Mas é que às vezes não basta que só eles saibam. Às vezes queria poder estampar isso nos outdoors da cidade, do mundo. Mas mesmo sabendo que se quiser mesmo posso fazer, sei que não vou conseguir atingir o que quero, porque palavras, minhas palavras, são só tentativas.
Palavras são somente tentativas. São somente meios que uso muitas vezes para tirar de mim um pouco do tanto que carrego aqui dentro. É que às vezes fica tão apertado que aperta meu coração e aí sinto o que acho que chamam de angústia. É, acho que chamam porque com freqüência percebo que as palavras que as pessoas dão as coisas tem significados absurdos diante do que essas coisas significam.
É, escrever para mim é como procurar a chave que dá pra estrela no Super Mário. E acabei de encontrar a do estágio chamado hoje.
As palavras que eu uso vêm sempre carregadas de significados errados. Errados para você, já que pra mim significa o que eu quero que signifique. Mas o fato é que descobri que quando me sinto como dizem, angustiada, é que tem muita coisa querendo sair, mas eu ainda não descobri como botar pra fora. E quando isso acontece (boto pra fora), passa. Claro que às vezes demora, mas quando encontro ouvidos dispostos, é rapidinho.
Pronto. O sono veio e botou a preguiça pra fora. Na verdade acho que consegui botar tudo pra fora e agora nem tenho mais medo de nada. Nem preguiça.Aí o sono virou o dono do pedaço.
É que quando to com sono, perco o controle do que falo (ou escrevo). Mas aí fico vazia e o sono toma conta.
Ah, tenho só um pouco de medo. Mas esse medo é meu companheiro de sempre, tipo aquele bicho que o meu Zé acha que mora no armário.
É, agora eu só tenho medo.
E sono.
Ah, mas é um medo bobo.
Medo que vou sentir quando acordar.
Medo porque hoje descobri que não adianta tentar fingir ou querer o contrário. Nem tanto descobri, talvez só aceitei. Que para essa Ana Maria que carrego aqui em mim, nada, nada é casual, tudo deve ser intenso. E verdadeiro.
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Depoimento daquele que não foi visto
A. Elisa
“Eu nunca a tinha visto andando pela universidade. Ela andava sozinha, mas parecia que já conhecia bem aquele lugar. Parecia deslocada e ao mesmo tempo bem ciente de tudo. Ela tinha um cabelo meio preso num rabo de cavalo, porque ainda era tão curto que o prendedor não o segurava todo. Ela estava de tênis e tinha uma bolsa tão grande que eu fiquei imaginando as coisas que ela carregava ali dentro. A primeira vez que eu a vi, ela estava sentada no banco em frente a biblioteca e, de repente, vejo que ela entra na minha turma e escolhe uma das primeiras cadeiras encostadas na parede para sentar. Abre a bolsa, e nesse momento presto bem atenção nela, até porque percebo que ela mal olhou para as pessoas que estão dentro da sala, parece não se importar em conhecer os outros. De dentro daquela enorme bolsa, ela tira um livro, e de relance consigo ler o título. Ela gosta de literatura brasileira. Enquanto o professor não chega, observo ela lendo atentamente o livro sem se importar com o barulho do som emitido pelo celular de Joaquim ou da conversa sobre o jogo do Naútico entre Moacyr e o Bento. Ela entrou numa sala onde o homem é maioria, e não pareceu se importar com isso. Procuro alguma brecha, algum momento em que ela respire para poder puxar uma conversa, mas ela parece tão compenetrada naquelas palavras que até sinto um pouco de inveja, por não ser tão interessante assim. De repente ela para, desfaz o rabo no cabelo e o faz novamente, e nesse baixar e levantar dos cabelos vejo que ela tem uma tatuagem de borboleta na nuca. Aproveito a oportunidade e me aproximo, questiono se ela é de outro período e faço alguma pergunta besta sobre o livro que está em suas mãos. Inesperadamente, vejo que ela conversa, e como, me fala sobre a peregrinação dela ao longo dos anos para concluir o curso e que por conta disso não tem uma turma específica, sobre o autor que lê e começamos a discutir sobre a história do livro. Em poucos minutos, já discordamos e concordamos em vários aspectos. Às vezes me pego olhando pra ela sem nem prestar atenção no que me diz. Ela articula tão bem as palavras e sabe convencer a gente, que muitas vezes termino concordando com a idéia dela sem nem mesmo saber qual foi. Acho que fui a única pessoa que tive contato com ela da turma, porque sempre que nos encontramos na sala ela só me cumprimentava e conversava sobre o novo livro que está lendo. Ela tem um plano de ler dois livros por mês. O que me espanta, é que além disso, ela lê todos os textos para a aula, debate temas com o professor e tira boas notas nas avaliações. Ela também me disse que faz outra faculdade e que esse semestre se forma, e que por isso tem corrido muito com o trabalho de conclusão de curso. Ela está filmando um documentário junto com três amigas. Enquanto ela se empolga contando os apuros das gravações, pego um livro na biblioteca e indico a ela. Ela olha e diz que já o tinha lido e pergunta o porquê dessa indicação. Me engasgo, não esperava por essa pergunta. A verdade é que o livro fala sobre estudos de psicanálise em relação ao amor, e tinha achado interessante porque no blog que ela escreve, só se fala de amor. Mas não podia admitir que acompanhava o blog dela semanalmente, que esperava ansiosamente por um novo texto, na ânsia de através da leitura, entender um pouco mais do seu mundo. Então simplesmente digo que Lou Salomé foi uma mulher à frente do seu tempo, igualzinho a ela. É engraçado, é muito difícil elogiá-la. Ela sempre tem uma desculpa ou um porém para os elogios que faço e quando aceita dá um risinho de canto de boca e diz bem baixinho, que eu quase não ouço seu “obrigado”. Eu queria ter tido mais tempo com ela, as noites de estudo na biblioteca e as conversas sobre os inúmeros livros que ela leu ao longo do período me fizeram perceber que ela é única, porque ela está ali e não se importa com ninguém, se não fosse por mim a gente não teria ficado amigo. Parece que a solidão é amiga dela. Hoje ela está em outra turma, como previamente já havia me avisado, e nos encontramos sempre às pressas, já que estou redigindo a minha monografia e ela ainda terminando as cadeiras de educação. Mas eu nunca vou esquecê-la. Aquela imagem dela sentada em frente ao banco da biblioteca com aquele tênis colorido e a bolsa gigante ficará marcada para sempre na minha memória. Durante todo o tempo em que tivemos contato eu sempre demonstrei meu interesse por ela, mas ela nunca retribuiu. Na verdade, eu acho que ela nunca percebeu. Perdida dentro dos livros, ela não viu que eu estava ali, o tempo todo, só esperando ela me olhar.”
“Eu nunca a tinha visto andando pela universidade. Ela andava sozinha, mas parecia que já conhecia bem aquele lugar. Parecia deslocada e ao mesmo tempo bem ciente de tudo. Ela tinha um cabelo meio preso num rabo de cavalo, porque ainda era tão curto que o prendedor não o segurava todo. Ela estava de tênis e tinha uma bolsa tão grande que eu fiquei imaginando as coisas que ela carregava ali dentro. A primeira vez que eu a vi, ela estava sentada no banco em frente a biblioteca e, de repente, vejo que ela entra na minha turma e escolhe uma das primeiras cadeiras encostadas na parede para sentar. Abre a bolsa, e nesse momento presto bem atenção nela, até porque percebo que ela mal olhou para as pessoas que estão dentro da sala, parece não se importar em conhecer os outros. De dentro daquela enorme bolsa, ela tira um livro, e de relance consigo ler o título. Ela gosta de literatura brasileira. Enquanto o professor não chega, observo ela lendo atentamente o livro sem se importar com o barulho do som emitido pelo celular de Joaquim ou da conversa sobre o jogo do Naútico entre Moacyr e o Bento. Ela entrou numa sala onde o homem é maioria, e não pareceu se importar com isso. Procuro alguma brecha, algum momento em que ela respire para poder puxar uma conversa, mas ela parece tão compenetrada naquelas palavras que até sinto um pouco de inveja, por não ser tão interessante assim. De repente ela para, desfaz o rabo no cabelo e o faz novamente, e nesse baixar e levantar dos cabelos vejo que ela tem uma tatuagem de borboleta na nuca. Aproveito a oportunidade e me aproximo, questiono se ela é de outro período e faço alguma pergunta besta sobre o livro que está em suas mãos. Inesperadamente, vejo que ela conversa, e como, me fala sobre a peregrinação dela ao longo dos anos para concluir o curso e que por conta disso não tem uma turma específica, sobre o autor que lê e começamos a discutir sobre a história do livro. Em poucos minutos, já discordamos e concordamos em vários aspectos. Às vezes me pego olhando pra ela sem nem prestar atenção no que me diz. Ela articula tão bem as palavras e sabe convencer a gente, que muitas vezes termino concordando com a idéia dela sem nem mesmo saber qual foi. Acho que fui a única pessoa que tive contato com ela da turma, porque sempre que nos encontramos na sala ela só me cumprimentava e conversava sobre o novo livro que está lendo. Ela tem um plano de ler dois livros por mês. O que me espanta, é que além disso, ela lê todos os textos para a aula, debate temas com o professor e tira boas notas nas avaliações. Ela também me disse que faz outra faculdade e que esse semestre se forma, e que por isso tem corrido muito com o trabalho de conclusão de curso. Ela está filmando um documentário junto com três amigas. Enquanto ela se empolga contando os apuros das gravações, pego um livro na biblioteca e indico a ela. Ela olha e diz que já o tinha lido e pergunta o porquê dessa indicação. Me engasgo, não esperava por essa pergunta. A verdade é que o livro fala sobre estudos de psicanálise em relação ao amor, e tinha achado interessante porque no blog que ela escreve, só se fala de amor. Mas não podia admitir que acompanhava o blog dela semanalmente, que esperava ansiosamente por um novo texto, na ânsia de através da leitura, entender um pouco mais do seu mundo. Então simplesmente digo que Lou Salomé foi uma mulher à frente do seu tempo, igualzinho a ela. É engraçado, é muito difícil elogiá-la. Ela sempre tem uma desculpa ou um porém para os elogios que faço e quando aceita dá um risinho de canto de boca e diz bem baixinho, que eu quase não ouço seu “obrigado”. Eu queria ter tido mais tempo com ela, as noites de estudo na biblioteca e as conversas sobre os inúmeros livros que ela leu ao longo do período me fizeram perceber que ela é única, porque ela está ali e não se importa com ninguém, se não fosse por mim a gente não teria ficado amigo. Parece que a solidão é amiga dela. Hoje ela está em outra turma, como previamente já havia me avisado, e nos encontramos sempre às pressas, já que estou redigindo a minha monografia e ela ainda terminando as cadeiras de educação. Mas eu nunca vou esquecê-la. Aquela imagem dela sentada em frente ao banco da biblioteca com aquele tênis colorido e a bolsa gigante ficará marcada para sempre na minha memória. Durante todo o tempo em que tivemos contato eu sempre demonstrei meu interesse por ela, mas ela nunca retribuiu. Na verdade, eu acho que ela nunca percebeu. Perdida dentro dos livros, ela não viu que eu estava ali, o tempo todo, só esperando ela me olhar.”
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
O mundo é travesti
A. Jabor
Vou falar um pouco de mulher, eu que mal as entendo na vida. Não falarei das coxas e seios e bumbuns... Falo de uma aura mais fluida que as percorre.
Gosto do olhar de onça, parado, quando queremos seduzi-las, mesmo sinceramente, pois elas sabem que a sinceridade é volúvel, não perdura. Um sorriso de descrédito lhes baila na boca quando lhe fazemos galanteios, mas acreditam assim mesmo, porque elas querem ser amadas, muito mais que desejadas. Elas estão sempre fora da vida social, mesmo quando estão dentro.
Podem ser as maiores executivas, mas seu corpo lateja sob o tailleur e lá dentro os órgãos estranham a estatística e o negócio. Elas querem ser vestidas pelo amor. O amor para elas é um lugar onde se sentem seguras, protegidas.
O termômetro das mulheres é: "Estou sendo amada ou não? Esse bocejo, seu rosto entediado... será que ele me ama ainda?" A mulher não acredita em nosso amor. Quando tem certeza dele, pára de nos amar. A mulher precisa do homem impalpável, impossível. As mulheres têm uma queda pelo canalha. O canalha é mais amado que o bonzinho. Ela sofre com o canalha, mas isso a justifica e engrandece, pois ela tem uma missão amorosa: quer que o homem a entenda, mas isso está fora de nosso alcance. A mulher pensa por metáforas.
O homem por metonímias. Entenderam? Claro que não. Digo melhor, a mulher compõe quadros mentais que se montam em um conjunto simbólico sem fim, como a arte. O homem quer princípio, meio e fim. Não estou falando da mulher sociológica, nem contemporânea, nem política. Falo de um sétimo órgão que todas têm, de um "ponto g" da alma.
Mulher não tem critério; pode amar a vida toda um vagabundo que não merece ou deixar de amar instantaneamente um sujeito devoto. Nada mais terrível que a mulher que cessa de te amar. Você vira um corpo sem órgãos, você vira também uma mulher abandonada.
Toda mulher é "Bovary"... e para serem amadas, instilam medo no coração do homem. Carinhosas, mas com perigo no ar. A carinhosa total entedia os machos... ficam claustrofóbicos. O homem só ama profundamente no ciúme. Só o corno conhece o verdadeiro amor. Mas, curioso, a mulher nunca é corna, mesmo abandonada, humilhada, não é corna. O homem corneado, carente, é feio de ver. A mulher enganada ganha ares de heroína, quase uma santidade. É uma fúria de Deus, é uma vingadora, é até suicida. Mas nunca corna. O homem corno é um palhaço. Ninguém tem pena do corno. O ridículo do corno é que ele achava que a possuía. A mulher sabe que não tem nada, ela sabe que é um processo de manutenção permanente. O homem só vira homem quando é corneado.
A mulher não vira nada nunca. Nem nunca é corneada... pois está sempre se sentindo assim. Como no homossexualismo: a lésbica não é viado.
A mulher é poesia. O homem é prosa. Isso não quer dizer que a mulher seja do bem e o homem do mal. Não. Muita vez, seus abismos são venenosos, seu mistério nos mata. A mulher quer ser possuída, mas não só no sexo, tipo "me come todinha". Falam isso no motel, para nos animar. O homem é pornográfico; a mulher é amorosa. A pornografia é só para homens. A mulher quer ser possuída em sua abstração, em sua geografia mutante, a mulher quer ser descoberta pelo homem para ela se conhecer. Ela é uma paisagem que quer ser decifrada pelas mãos e bocas dos exploradores. Ela não sabe quem é. Mas elas também não querem ser opacas, obscuras. Querem descobrir a beleza que cabe a nós revelar-lhes. As mulheres não sabem o que querem; o homem acha que sabe.
O masculino é certo; o feminino é insolúvel. O homem é espiritual e a mulher é corporal. A mulher é metafísica; homem é engenharia. A mulher deseja o impossível; desejar o impossível é sua grande beleza. Ela vive buscando atingir a plenitude e essa luta contra o vazio justifica sua missão de entrega. Mesmo que essa "plenitude" seja um "living" bem decorado ou o perfeito funcionamento do lar. O amor exige coragem. E o homem... é mais covarde. O homem, quando conquista, acha que não tem mais de se esforçar e aí , dança...
A mulher é muito mais exilada das certezas da vida que o homem. Ela é mais profunda que nós. Ela vive mais desamparada e, no entanto, mais segura. A vida e a morte saem de seu ventre. Ela faz parte do grande mistério que nós vemos de fora, com o pauzinho inerme. Ela tem algo de essencial, tem algo a ver com as galáxias. Nós somos um apêndice.
Hoje em dia, as mulheres foram expulsas de seus ninhos de procriação, de sua sexualidade passiva, expectante e jogadas na obrigação do sexo ativo e masculino. A supergostosa é homem. É um travesti ao contrário. Alguns dizem que os homens erigiram seus poderes e instituições apenas para contrariar os poderes originais bem superiores da mulher.
As mulheres sofrem mais com o mal do mundo. Carregam o fardo da dor histórica e social, por serem mais sensíveis e mais fracas. Os homens, por serem fálicos, escamoteiam a depressão e a consciência da morte com obsessões bélicas, financeiras ou políticas. As mulheres agüentam firmes a dor incompreendida. O mundo está tão indeterminado que está ficando feminino, como uma mulher perdida: nunca está onde pensa estar. O mundo determinista se fracionou globalmente, como a mulher. Mas não é o mundo delicado, romântico e fértil da mulher; é um mundo feminino comandado por homens boçais. Talvez seja melhor dizer um mundo travesti. O mundo hoje é travesti.
Vou falar um pouco de mulher, eu que mal as entendo na vida. Não falarei das coxas e seios e bumbuns... Falo de uma aura mais fluida que as percorre.
Gosto do olhar de onça, parado, quando queremos seduzi-las, mesmo sinceramente, pois elas sabem que a sinceridade é volúvel, não perdura. Um sorriso de descrédito lhes baila na boca quando lhe fazemos galanteios, mas acreditam assim mesmo, porque elas querem ser amadas, muito mais que desejadas. Elas estão sempre fora da vida social, mesmo quando estão dentro.
Podem ser as maiores executivas, mas seu corpo lateja sob o tailleur e lá dentro os órgãos estranham a estatística e o negócio. Elas querem ser vestidas pelo amor. O amor para elas é um lugar onde se sentem seguras, protegidas.
O termômetro das mulheres é: "Estou sendo amada ou não? Esse bocejo, seu rosto entediado... será que ele me ama ainda?" A mulher não acredita em nosso amor. Quando tem certeza dele, pára de nos amar. A mulher precisa do homem impalpável, impossível. As mulheres têm uma queda pelo canalha. O canalha é mais amado que o bonzinho. Ela sofre com o canalha, mas isso a justifica e engrandece, pois ela tem uma missão amorosa: quer que o homem a entenda, mas isso está fora de nosso alcance. A mulher pensa por metáforas.
O homem por metonímias. Entenderam? Claro que não. Digo melhor, a mulher compõe quadros mentais que se montam em um conjunto simbólico sem fim, como a arte. O homem quer princípio, meio e fim. Não estou falando da mulher sociológica, nem contemporânea, nem política. Falo de um sétimo órgão que todas têm, de um "ponto g" da alma.
Mulher não tem critério; pode amar a vida toda um vagabundo que não merece ou deixar de amar instantaneamente um sujeito devoto. Nada mais terrível que a mulher que cessa de te amar. Você vira um corpo sem órgãos, você vira também uma mulher abandonada.
Toda mulher é "Bovary"... e para serem amadas, instilam medo no coração do homem. Carinhosas, mas com perigo no ar. A carinhosa total entedia os machos... ficam claustrofóbicos. O homem só ama profundamente no ciúme. Só o corno conhece o verdadeiro amor. Mas, curioso, a mulher nunca é corna, mesmo abandonada, humilhada, não é corna. O homem corneado, carente, é feio de ver. A mulher enganada ganha ares de heroína, quase uma santidade. É uma fúria de Deus, é uma vingadora, é até suicida. Mas nunca corna. O homem corno é um palhaço. Ninguém tem pena do corno. O ridículo do corno é que ele achava que a possuía. A mulher sabe que não tem nada, ela sabe que é um processo de manutenção permanente. O homem só vira homem quando é corneado.
A mulher não vira nada nunca. Nem nunca é corneada... pois está sempre se sentindo assim. Como no homossexualismo: a lésbica não é viado.
A mulher é poesia. O homem é prosa. Isso não quer dizer que a mulher seja do bem e o homem do mal. Não. Muita vez, seus abismos são venenosos, seu mistério nos mata. A mulher quer ser possuída, mas não só no sexo, tipo "me come todinha". Falam isso no motel, para nos animar. O homem é pornográfico; a mulher é amorosa. A pornografia é só para homens. A mulher quer ser possuída em sua abstração, em sua geografia mutante, a mulher quer ser descoberta pelo homem para ela se conhecer. Ela é uma paisagem que quer ser decifrada pelas mãos e bocas dos exploradores. Ela não sabe quem é. Mas elas também não querem ser opacas, obscuras. Querem descobrir a beleza que cabe a nós revelar-lhes. As mulheres não sabem o que querem; o homem acha que sabe.
O masculino é certo; o feminino é insolúvel. O homem é espiritual e a mulher é corporal. A mulher é metafísica; homem é engenharia. A mulher deseja o impossível; desejar o impossível é sua grande beleza. Ela vive buscando atingir a plenitude e essa luta contra o vazio justifica sua missão de entrega. Mesmo que essa "plenitude" seja um "living" bem decorado ou o perfeito funcionamento do lar. O amor exige coragem. E o homem... é mais covarde. O homem, quando conquista, acha que não tem mais de se esforçar e aí , dança...
A mulher é muito mais exilada das certezas da vida que o homem. Ela é mais profunda que nós. Ela vive mais desamparada e, no entanto, mais segura. A vida e a morte saem de seu ventre. Ela faz parte do grande mistério que nós vemos de fora, com o pauzinho inerme. Ela tem algo de essencial, tem algo a ver com as galáxias. Nós somos um apêndice.
Hoje em dia, as mulheres foram expulsas de seus ninhos de procriação, de sua sexualidade passiva, expectante e jogadas na obrigação do sexo ativo e masculino. A supergostosa é homem. É um travesti ao contrário. Alguns dizem que os homens erigiram seus poderes e instituições apenas para contrariar os poderes originais bem superiores da mulher.
As mulheres sofrem mais com o mal do mundo. Carregam o fardo da dor histórica e social, por serem mais sensíveis e mais fracas. Os homens, por serem fálicos, escamoteiam a depressão e a consciência da morte com obsessões bélicas, financeiras ou políticas. As mulheres agüentam firmes a dor incompreendida. O mundo está tão indeterminado que está ficando feminino, como uma mulher perdida: nunca está onde pensa estar. O mundo determinista se fracionou globalmente, como a mulher. Mas não é o mundo delicado, romântico e fértil da mulher; é um mundo feminino comandado por homens boçais. Talvez seja melhor dizer um mundo travesti. O mundo hoje é travesti.
sábado, 19 de setembro de 2009
É dor.
A. Maria
Anteontem descobri que preciso sentir. Que precisa doer, e que quando não ta doendo procuro meios de sentir a dor.
Outra tatuagem, outro piercing talvez.
Na verdade eu só descobri que sou ainda aquela criança que ia dormir no meio da melhor brincadeira porque tinha sono, que comia no meio da aula porque tinha fome, ou desejo, que beijava no meio da conversa porque tinha vontade, que gritava no meio do silêncio porque queria quebra-lo, que amava no meio da fúria porque queria viver.
Sou sim a mesma criança. A única diferença é que costumo me vestir de mulher com tanta freqüência que as vezes até esqueço de trocar de roupa. E quando isso acontece me sinto perdida com o caminho na minha frente, me sinto sozinha no meio dos melhores amigos que pude desejar, me sinto com fome tendo devorado três pratos cheios, me sinto com cólicas não estando menstruada, me sinto triste no meio da alegria e me sinto odiada no meio do amor. Mas isso só acontece quando me esqueço de tirar essa roupa que me vês sempre vestida e me mostro como realmente sou.
E é nesse momento que passas a me conhecer, é nesse exato momento que costumo afastar as pessoas. É nessa hora que mostro a você que não podes me dizer coisas que não sentes, e mostro que sou a mesma criança que acreditava na mamãe quando ela dizia que nunca ia se afastar. E é aí que te assusto, pois percebes que sempre acredito em tudo que dizes, mesmo quando em seguida me dizes que era tudo brincadeira, que era tudo mentira. Mas é que para as crianças, não podes prometer o que não será possível cumprir, não se pode declarar o que realmente não sentir, não se pode dizer amar, sem as fazer sentir.
Sim, é essa a dor que preciso sempre sentir. É que dói quando preciso me despir, dói, porque passo tanto tempo com a roupa de mulher que quando resolvo tirar, ela já está tão grudada em minha pele que as vezes demoro dias, semanas, e as vezes meses para conseguir remove-la, e muitas vezes somente por alguns minutos. Sim, dói pra me despir, dói me mostrar inteira, dói porque minha memória (poética, talvez) insiste em rememorar todos que perdi quando me mostrei despida de Ana Maria e virei somente Aninha. Dói porque lembrando dos que perdi, passo a ter certeza que também te perderei e ficarei aqui, mais uma vez sozinha, e mais uma vez vestindo a roupa de mulher que ganhei de presente da vida, e por fim, mais uma vez faço adormecer essa criança que encosta a bochecha no teu braço e aperta só pra dizer que quer que você fique.
Faço ela adormecer.
Até me despir novamente, e amar.
Tem que doer, e queimar. Quando não me queimo não sou feliz. Vinícius dizia que quando se queima não se é feliz. Nisso eu discordo, acho que ele falou isso quando não sentia mais o fogo, e não soube perceber isso.
Acho que para amar, precisa doer, mas não aquela dor que nos faz querer perder, mas aquela dor que nos faz querer, sentir, tocar, beijar, viver. Ouvi dizer que se não existisse a dor, não existiria o prazer. Talvez essa seja a chave.
Amar é sentir a dor, mas é que em seguida o prazer vem na mesma proporção e assim, toda a dor é esquecida. E depois desejada, já que é tão intenso o prazer.
Também anteontem descobri que não sei ficar sem querer. Não sei. Desistam, não sei. E quer saber mais? Também não quero! É, não quero.
Só sei ser assim, só sei viver querendo, e se não for assim, não estou completa. Quando não quero, não sou. Se não quero, não estou. Apenas pareço estar, mas o fato é que não estou.
E não me peçam pra mudar isso, é isso que me faz respirar, é isso que me faz usar aquele perfume que ganhei do meu irmão, é isso que me faz usar um vestido novo, é isso que me faz amassar meus cachos, é isso que me faz usar pó, blush e rímel, e sorri no espelho pra ver se alguém poderia me achar bonita. É isso que eu quero.
Querer o amor, querer amar, querer sentir. Dor e prazer. É isso que me faz querer.
Me querer. Te querer.
É isso.
Anteontem descobri que preciso sentir. Que precisa doer, e que quando não ta doendo procuro meios de sentir a dor.
Outra tatuagem, outro piercing talvez.
Na verdade eu só descobri que sou ainda aquela criança que ia dormir no meio da melhor brincadeira porque tinha sono, que comia no meio da aula porque tinha fome, ou desejo, que beijava no meio da conversa porque tinha vontade, que gritava no meio do silêncio porque queria quebra-lo, que amava no meio da fúria porque queria viver.
Sou sim a mesma criança. A única diferença é que costumo me vestir de mulher com tanta freqüência que as vezes até esqueço de trocar de roupa. E quando isso acontece me sinto perdida com o caminho na minha frente, me sinto sozinha no meio dos melhores amigos que pude desejar, me sinto com fome tendo devorado três pratos cheios, me sinto com cólicas não estando menstruada, me sinto triste no meio da alegria e me sinto odiada no meio do amor. Mas isso só acontece quando me esqueço de tirar essa roupa que me vês sempre vestida e me mostro como realmente sou.
E é nesse momento que passas a me conhecer, é nesse exato momento que costumo afastar as pessoas. É nessa hora que mostro a você que não podes me dizer coisas que não sentes, e mostro que sou a mesma criança que acreditava na mamãe quando ela dizia que nunca ia se afastar. E é aí que te assusto, pois percebes que sempre acredito em tudo que dizes, mesmo quando em seguida me dizes que era tudo brincadeira, que era tudo mentira. Mas é que para as crianças, não podes prometer o que não será possível cumprir, não se pode declarar o que realmente não sentir, não se pode dizer amar, sem as fazer sentir.
Sim, é essa a dor que preciso sempre sentir. É que dói quando preciso me despir, dói, porque passo tanto tempo com a roupa de mulher que quando resolvo tirar, ela já está tão grudada em minha pele que as vezes demoro dias, semanas, e as vezes meses para conseguir remove-la, e muitas vezes somente por alguns minutos. Sim, dói pra me despir, dói me mostrar inteira, dói porque minha memória (poética, talvez) insiste em rememorar todos que perdi quando me mostrei despida de Ana Maria e virei somente Aninha. Dói porque lembrando dos que perdi, passo a ter certeza que também te perderei e ficarei aqui, mais uma vez sozinha, e mais uma vez vestindo a roupa de mulher que ganhei de presente da vida, e por fim, mais uma vez faço adormecer essa criança que encosta a bochecha no teu braço e aperta só pra dizer que quer que você fique.
Faço ela adormecer.
Até me despir novamente, e amar.
Tem que doer, e queimar. Quando não me queimo não sou feliz. Vinícius dizia que quando se queima não se é feliz. Nisso eu discordo, acho que ele falou isso quando não sentia mais o fogo, e não soube perceber isso.
Acho que para amar, precisa doer, mas não aquela dor que nos faz querer perder, mas aquela dor que nos faz querer, sentir, tocar, beijar, viver. Ouvi dizer que se não existisse a dor, não existiria o prazer. Talvez essa seja a chave.
Amar é sentir a dor, mas é que em seguida o prazer vem na mesma proporção e assim, toda a dor é esquecida. E depois desejada, já que é tão intenso o prazer.
Também anteontem descobri que não sei ficar sem querer. Não sei. Desistam, não sei. E quer saber mais? Também não quero! É, não quero.
Só sei ser assim, só sei viver querendo, e se não for assim, não estou completa. Quando não quero, não sou. Se não quero, não estou. Apenas pareço estar, mas o fato é que não estou.
E não me peçam pra mudar isso, é isso que me faz respirar, é isso que me faz usar aquele perfume que ganhei do meu irmão, é isso que me faz usar um vestido novo, é isso que me faz amassar meus cachos, é isso que me faz usar pó, blush e rímel, e sorri no espelho pra ver se alguém poderia me achar bonita. É isso que eu quero.
Querer o amor, querer amar, querer sentir. Dor e prazer. É isso que me faz querer.
Me querer. Te querer.
É isso.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Morangos.
A. Maria
Ela foi comprar morangos. Vermelhos.
Dizem que vermelho é a cor do amor.
Talvez tenha sido por isso que ela chorou.
Chorou e chora.
Será que perdeu um amor? Ela se perguntava porque destruiu tudo. Podia ser tão lindo.
Pensou isso quando atravessando a rua, viu uma mãe, um pai de duas filhas. Se imaginou ali no lugar daquela dama. Se imaginou com ele ao seu lado.
Pensando assim tudo parece tão fácil. Mas será que não era e ela é que complicou tudo? Ou será mesmo que era insuportavelmente difícil?É certo que esses momentos de incerteza não são freqüentes! Também se fosse ela enlouqueceria. Mas quando eles vêm tudo fica tão cinza. O céu fica tão nublado. E o amor parece ficar com raiva.
Os morangos estavam bem firmes, assim como ela quer estar. Claro que alguns estavam feridos, mas se não existissem as feridas, os inteiros não seriam tão bonitos. A vida não seria tão bonita.
Ela os envolveu com um doce gostoso, e um chocolate duro por cima.
E assim como os morangos, ela decidiu também envolver seu coração, com duas camadas, pra ele ficar bem guardado e preservar seu azedinho, mas com muito doce e chocolate duro por fora.
Vermelho é a cor do amor. Mas o vermelho está sempre protegido por camadas, cabe a ela morder tudo e comer o amor, o azedo, o doce e o duro juntos. E depois cabe a ela, presentear alguém com esse morango que fizera, para que o presenteado morda e coma seu amor, seu azedo, seu doce e amoleça o que é duro. Cabe a ela também descobrir como ele protegeu seu morango, e também come-lo para que os vermelhos dos morangos e do amor, fiquem dentro de cada um deles.
Bem guardado e bem juntinho daquela outra coisa vermelha conhecida como coração.
Ela foi comprar morangos. Vermelhos.
Dizem que vermelho é a cor do amor.
Talvez tenha sido por isso que ela chorou.
Chorou e chora.
Será que perdeu um amor? Ela se perguntava porque destruiu tudo. Podia ser tão lindo.
Pensou isso quando atravessando a rua, viu uma mãe, um pai de duas filhas. Se imaginou ali no lugar daquela dama. Se imaginou com ele ao seu lado.
Pensando assim tudo parece tão fácil. Mas será que não era e ela é que complicou tudo? Ou será mesmo que era insuportavelmente difícil?É certo que esses momentos de incerteza não são freqüentes! Também se fosse ela enlouqueceria. Mas quando eles vêm tudo fica tão cinza. O céu fica tão nublado. E o amor parece ficar com raiva.
Os morangos estavam bem firmes, assim como ela quer estar. Claro que alguns estavam feridos, mas se não existissem as feridas, os inteiros não seriam tão bonitos. A vida não seria tão bonita.
Ela os envolveu com um doce gostoso, e um chocolate duro por cima.
E assim como os morangos, ela decidiu também envolver seu coração, com duas camadas, pra ele ficar bem guardado e preservar seu azedinho, mas com muito doce e chocolate duro por fora.
Vermelho é a cor do amor. Mas o vermelho está sempre protegido por camadas, cabe a ela morder tudo e comer o amor, o azedo, o doce e o duro juntos. E depois cabe a ela, presentear alguém com esse morango que fizera, para que o presenteado morda e coma seu amor, seu azedo, seu doce e amoleça o que é duro. Cabe a ela também descobrir como ele protegeu seu morango, e também come-lo para que os vermelhos dos morangos e do amor, fiquem dentro de cada um deles.
Bem guardado e bem juntinho daquela outra coisa vermelha conhecida como coração.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Já disse que as metáforas são perigosas
A. Elisa
Eu decidi te esperar. Na verdade, eu nem sei se você vai voltar mesmo, mas aí, hoje, acordei, e decidi que iria arriscar. Porque por mais que eu saia por aí, me divirta, conheça outras pessoas e até me apaixone de vez em quando, é em você que eu penso antes de dormir e é em você que eu me inspiro para escrever esses textos. Passei duas semanas sem escrever, duas semanas que a vida estava tão corrida, que nem tempo pra pensar em você eu tive. Aí chegou aquela bendita sexta-feira, aquele dia que sempre me faz pensar em você, não sei por quê. Desde que você foi embora, toda sexta-feira eu fico ruim e só começo a melhorar no domingo. Acho que é a síndrome do fim de semana.
Hoje quando eu decidi te esperar, pensei em você chegando com seu chapéu de palha e sua barba por fazer, pensei naquele seu riso de olhinho de lado e no jeito como você comparava o tamanho das nossas mãos. Lembrando tudo isso, eu decidi te esperar. Não sei o que vai acontecer com a gente quando você voltar, mas eu vou estar aqui do mesmo jeito, esperando alguma atitude sua. Quando você voltar, meu cabelo já vai ter crescido uns cinco centímetros e os quilos que eu perdi nas férias, já os terei de volta. Dependendo da hora que você voltar, talvez eu esteja trabalhando naquela sonhada revista que eu assino, só pra sentir que também faço parte dela. Quando você voltar, talvez eu já tenha terminado de ler Grande Sertão: Veredas, para finalmente poder te explicar a grandiosidade desse livro. No dia em que você chegar, eu vou te contar, toda orgulhosa, que aprendi a comer sushi e que também perdi o medo de andar de bicicleta. Quando você voltar, eu finalmente vou esquecer do barulho infernal, que a obra aqui do lado faz todo dia de manhã, e vou começar a ouvir o bem-te-vi, que na minha janela pousa de madrugada. Ah, porque quando você voltar, eu já estarei acordando cedo pra ir caminhar na Jaqueira! Eu também espero que quando você voltar, eu finalmente tenha trocado a lâmpada do meu banheiro, que insiste em ficar piscando toda vez que eu ligo o chuveiro quente. Melhor ainda, quero deixar de tomar banho quente, só porque você vivia me dizendo que faz mal para a pele, e que não quer estar com alguém de vinte e poucos anos com pele de quarenta. Quando você voltar, eu já vou ter separado uma gaveta só para as tuas roupas, o teu Playstation, e a segunda temporada de House, que você vai deixar aqui, até eu gostar de assistir contigo. Espero também que quando você voltar, já consiga ver um filme inteiro sem dormir, porque é um saco ter que te explicar tudo, toda vez que a gente sai do cinema.
Mas pensando bem, quando você voltar, mesmo que você volte do mesmo jeito que você veio da última vez, eu vou te querer. E mesmo que você não me procure, eu vou te procurar, só pra ter a certeza que você voltou, só pra você saber, que mesmo sem eu nunca ter prometido te esperar, eu te esperei. Porque pior do que saber que você não me quer, é saber que você nunca mais vai voltar.
Eu decidi te esperar. Na verdade, eu nem sei se você vai voltar mesmo, mas aí, hoje, acordei, e decidi que iria arriscar. Porque por mais que eu saia por aí, me divirta, conheça outras pessoas e até me apaixone de vez em quando, é em você que eu penso antes de dormir e é em você que eu me inspiro para escrever esses textos. Passei duas semanas sem escrever, duas semanas que a vida estava tão corrida, que nem tempo pra pensar em você eu tive. Aí chegou aquela bendita sexta-feira, aquele dia que sempre me faz pensar em você, não sei por quê. Desde que você foi embora, toda sexta-feira eu fico ruim e só começo a melhorar no domingo. Acho que é a síndrome do fim de semana.
Hoje quando eu decidi te esperar, pensei em você chegando com seu chapéu de palha e sua barba por fazer, pensei naquele seu riso de olhinho de lado e no jeito como você comparava o tamanho das nossas mãos. Lembrando tudo isso, eu decidi te esperar. Não sei o que vai acontecer com a gente quando você voltar, mas eu vou estar aqui do mesmo jeito, esperando alguma atitude sua. Quando você voltar, meu cabelo já vai ter crescido uns cinco centímetros e os quilos que eu perdi nas férias, já os terei de volta. Dependendo da hora que você voltar, talvez eu esteja trabalhando naquela sonhada revista que eu assino, só pra sentir que também faço parte dela. Quando você voltar, talvez eu já tenha terminado de ler Grande Sertão: Veredas, para finalmente poder te explicar a grandiosidade desse livro. No dia em que você chegar, eu vou te contar, toda orgulhosa, que aprendi a comer sushi e que também perdi o medo de andar de bicicleta. Quando você voltar, eu finalmente vou esquecer do barulho infernal, que a obra aqui do lado faz todo dia de manhã, e vou começar a ouvir o bem-te-vi, que na minha janela pousa de madrugada. Ah, porque quando você voltar, eu já estarei acordando cedo pra ir caminhar na Jaqueira! Eu também espero que quando você voltar, eu finalmente tenha trocado a lâmpada do meu banheiro, que insiste em ficar piscando toda vez que eu ligo o chuveiro quente. Melhor ainda, quero deixar de tomar banho quente, só porque você vivia me dizendo que faz mal para a pele, e que não quer estar com alguém de vinte e poucos anos com pele de quarenta. Quando você voltar, eu já vou ter separado uma gaveta só para as tuas roupas, o teu Playstation, e a segunda temporada de House, que você vai deixar aqui, até eu gostar de assistir contigo. Espero também que quando você voltar, já consiga ver um filme inteiro sem dormir, porque é um saco ter que te explicar tudo, toda vez que a gente sai do cinema.
Mas pensando bem, quando você voltar, mesmo que você volte do mesmo jeito que você veio da última vez, eu vou te querer. E mesmo que você não me procure, eu vou te procurar, só pra ter a certeza que você voltou, só pra você saber, que mesmo sem eu nunca ter prometido te esperar, eu te esperei. Porque pior do que saber que você não me quer, é saber que você nunca mais vai voltar.
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Agaton, por A. Maria
É ele quem dá paz aos homens, bonança ao mar, repouso ao vento, habilitações e sono aos viventes. É ele quem nos corrige as aversões e nos proporciona as amizades. Príncipe em todas as reuniões semelhantes à nossa, é quem nos une na celebração de festas, jogos e sacrifícios. Pródigo de bondade, avaro de ódio. Generoso e bom, excita a admiração dos sábios e o assombro dos deuses. É o desejo dos que o possuem, tesouros dos que o têm; pai das delícias requintadas, das graças, dos desejos, dos anseios. Vela pelos bons e despreza os maus. Nosso guia nas lutas; nos temores e perigos, companheiro de armas; sustentáculo nas tormentas das paixões; na dor e sofrimento, supremo salvador. Regulador da conduta de deuses e homens, mestre excelente e nobre, todo o mortal deve procurar segui-lo, repetindo em sua glória o hino de que se serve para propiciar o espírito dos deuses e dos homens.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Até na minha memória tem poesia
A. Elisa
Existem certas coisas que nos lembram pessoas que passaram pelas nossas vidas, talvez não da maneira ou com a intensidade que esperávamos. Essas coisas, por mais simples, exóticas ou cômicas que pareçam ser, ficam alojadas, no que descobri, recentemente, ser chamada a nossa memória poética. Lá guardamos pequenas recordações de coisas que nunca imaginaríamos guardar, de pessoas que foram ou não importantes na nossa vida. Eu digo isso, porque hoje me peguei lembrando de um antigo colega de turma que costumava ler poesias nos intervalos da aula. Apesar de eu nunca ter trocado nenhuma palavra com ele, hoje, lendo um livro de Quintana, que Aninha me deu de presente, pensei nele e em como aquelas poesias ficariam bem mais bonitas se saídas de sua boca. Esse é somente um exemplo dessas coisas bizarras que a nossa mente apronta com a gente. A memória poética é um espaço dentro de nós onde guardamos coisas importantes ou não, como que um grande amigo meu detesta o cheiro do café ou que, uma vez, enquanto eu morava na Alemanha, vi uma mulher atravessar a rua e ela era tão linda, tão linda, que eu desejei, secretamente, que se um dia eu conseguisse ter a cor do cabelo que ela tinha, seria a menina mais feliz do mundo. É como se essas recordações fossem escritas num papel com uma caneta que nunca pudesse ser apagada, porque elas duram eternamente na nossa memória. No livro de onde tirei essa idéia o autor diz que para o amor, na memória poética, só se consegue alojar um pensamento. Que só conseguimos amar uma pessoa, mesmo que não fiquemos ou que nunca fiquemos com ela. Os outros sentimentos é que nos enganam o resto da vida fazendo a gente pensar que amamos mais de uma pessoa. Atualmente, minha memória poética tem sido ativada várias vezes. Como quando vejo Simpsons e automaticamente me lembro do meu irmão, ou que eu tenho abuso do Guaiamum Gigante e, principalmente de camarão a alho e óleo de lá, por conta do meu ex-namorado. Também me lembrei no São João, enquanto comia milho assado, da minha avó, que adorava ir pra minha antiga casa, assar milho no fogão de lenha que a gente tinha nos fundos, e eu ficava do lado dela, com a minha mini-cozinha, fazendo meus bolos e quitutes de terra, barro e plantas. Blusa e Top só me lembram de Aninha, vestido da Cantão só me lembra Isa. O sushi chinês e o pé de macarrão também me fazem lembrar dessa morena. E toda vez que eu ouço Ana Carolina, lembro do show que eu e Aninha fomos juntas. Quando como Acarajé lembro da minha viagem pra Porto Seguro e quando tomo cerveja quente lembro dos meus encontros com Leo e Gabriel, na Alemanha, pra jogar conversa fora, beber cerveja quente e estudar de vez em quando. Da Alemanha também me lembro do dia que eu comi 5 pacotes daqueles docinhos de gelatina, do dia que eu ouvi Jeito Moleque, pela primeira vez, e senti falta do Brasil. Essa memória poética que temos grava até aquilo que queremos esquecer, quando no dia que eu me ofereci pra ser o par, da Quadrilha de São João, do menino que eu gostava, aos 10 anos, e descobri que ele já tinha um. Ou quando eu descobri que tinha menstruado, pela primeira vez, no meio de uma festa de família, e minha mãe fez questão de contar pra todo mundo o que tinha acontecido.
Essa nossa memória poética se organiza através de palavras, são elas que acionam a lembrança, o gosto, o cheiro ou o som que nos remete àquele tempo. É um movimento que vai além da nossa capacidade de ordenar o corpo, é uma parte da gente que registra o que nos encantou, o que nos comoveu, o que dá beleza na nossa vida. É o cheiro da chuva, o intervalo do olhar, o sorriso de canto de boca ou o gosto picante de uma pimenta. Uma emoção que às vezes não pode ser verbalizada e que arrepia o corpo quando retorna á mente. São retalhos do nosso passado que quase viram realidade por um instante, nos enchendo de alegria por simplesmente ter vivido aquilo e ter sobrevivido pra contar que, apesar de doloridos, desconcertantes ou sem sentido, vale muito a pena viver, somente pra ter do que lembrar no futuro.
Existem certas coisas que nos lembram pessoas que passaram pelas nossas vidas, talvez não da maneira ou com a intensidade que esperávamos. Essas coisas, por mais simples, exóticas ou cômicas que pareçam ser, ficam alojadas, no que descobri, recentemente, ser chamada a nossa memória poética. Lá guardamos pequenas recordações de coisas que nunca imaginaríamos guardar, de pessoas que foram ou não importantes na nossa vida. Eu digo isso, porque hoje me peguei lembrando de um antigo colega de turma que costumava ler poesias nos intervalos da aula. Apesar de eu nunca ter trocado nenhuma palavra com ele, hoje, lendo um livro de Quintana, que Aninha me deu de presente, pensei nele e em como aquelas poesias ficariam bem mais bonitas se saídas de sua boca. Esse é somente um exemplo dessas coisas bizarras que a nossa mente apronta com a gente. A memória poética é um espaço dentro de nós onde guardamos coisas importantes ou não, como que um grande amigo meu detesta o cheiro do café ou que, uma vez, enquanto eu morava na Alemanha, vi uma mulher atravessar a rua e ela era tão linda, tão linda, que eu desejei, secretamente, que se um dia eu conseguisse ter a cor do cabelo que ela tinha, seria a menina mais feliz do mundo. É como se essas recordações fossem escritas num papel com uma caneta que nunca pudesse ser apagada, porque elas duram eternamente na nossa memória. No livro de onde tirei essa idéia o autor diz que para o amor, na memória poética, só se consegue alojar um pensamento. Que só conseguimos amar uma pessoa, mesmo que não fiquemos ou que nunca fiquemos com ela. Os outros sentimentos é que nos enganam o resto da vida fazendo a gente pensar que amamos mais de uma pessoa. Atualmente, minha memória poética tem sido ativada várias vezes. Como quando vejo Simpsons e automaticamente me lembro do meu irmão, ou que eu tenho abuso do Guaiamum Gigante e, principalmente de camarão a alho e óleo de lá, por conta do meu ex-namorado. Também me lembrei no São João, enquanto comia milho assado, da minha avó, que adorava ir pra minha antiga casa, assar milho no fogão de lenha que a gente tinha nos fundos, e eu ficava do lado dela, com a minha mini-cozinha, fazendo meus bolos e quitutes de terra, barro e plantas. Blusa e Top só me lembram de Aninha, vestido da Cantão só me lembra Isa. O sushi chinês e o pé de macarrão também me fazem lembrar dessa morena. E toda vez que eu ouço Ana Carolina, lembro do show que eu e Aninha fomos juntas. Quando como Acarajé lembro da minha viagem pra Porto Seguro e quando tomo cerveja quente lembro dos meus encontros com Leo e Gabriel, na Alemanha, pra jogar conversa fora, beber cerveja quente e estudar de vez em quando. Da Alemanha também me lembro do dia que eu comi 5 pacotes daqueles docinhos de gelatina, do dia que eu ouvi Jeito Moleque, pela primeira vez, e senti falta do Brasil. Essa memória poética que temos grava até aquilo que queremos esquecer, quando no dia que eu me ofereci pra ser o par, da Quadrilha de São João, do menino que eu gostava, aos 10 anos, e descobri que ele já tinha um. Ou quando eu descobri que tinha menstruado, pela primeira vez, no meio de uma festa de família, e minha mãe fez questão de contar pra todo mundo o que tinha acontecido.
Essa nossa memória poética se organiza através de palavras, são elas que acionam a lembrança, o gosto, o cheiro ou o som que nos remete àquele tempo. É um movimento que vai além da nossa capacidade de ordenar o corpo, é uma parte da gente que registra o que nos encantou, o que nos comoveu, o que dá beleza na nossa vida. É o cheiro da chuva, o intervalo do olhar, o sorriso de canto de boca ou o gosto picante de uma pimenta. Uma emoção que às vezes não pode ser verbalizada e que arrepia o corpo quando retorna á mente. São retalhos do nosso passado que quase viram realidade por um instante, nos enchendo de alegria por simplesmente ter vivido aquilo e ter sobrevivido pra contar que, apesar de doloridos, desconcertantes ou sem sentido, vale muito a pena viver, somente pra ter do que lembrar no futuro.
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Meu coração não quer viver batendo devagar.
A. Maria
E quando a gente não sabe mais se ama, o que faz? E quando ta tudo tão confuso que a gente não consegue mais sentir? Não só o amor, tudo. Que vazio! Como pode? Tô vazia, nula, não sinto nada. Nada. O que é isso, Meus Deus? Por que ?
Não acho direito guardar sentimentos ruins, mágoas, raiva, tristeza, essas coisas...
Mas é que ultimamente eu não to conseguindo colocar todas essas coisas descarga a dentro. Percebo que as coisas ruins que me fizeste sentir sempre vem a tona quando pisas na bola. Acho que chamam isso de mágoa. Mas pro amor não existe mágoa. Então não amo?
Parece que aquela menina que vivia apaixonada por o que quer que seja, tirou férias. Não sei o que acontece. Só sei que quero ela de volta! Quero ela de volta!
Vazio. O amor é sempre cheio, e o vazio, o que é? A paixão também é cheia, mas o vazio o que é? O vazio, o que é?
Será que to precisando morrer um pouco? Certamente! Mas o que? Como? Tá doendo, doendo tanto.
Eu quero aquela menina boba, que se contenta com “pouco”, que sorri até pros passarinhos. Que chora com um velhinho se cai no chão.
Quero aquela Aninha que era a Princesa do Agreste do papai. Aquela que era o Pêto da Dinda. A Nêga da tia, a Miga de Isa, a Aninha que Elisa tão doce chamava... A Inha de mainha.
Volta pra mim, volta! Volta a morar em mim! Quero de volta aquele fogo queimando por aquele que te fez pensar ser a mais bonita. Quero aquela euforia só pra ir tomar sorvete ali na esquina. Aquele frio na barriga quando o telefone toca e aparece o nome de alguém esperado. Aquela lágrima nos olhos ao ouvir Dona Ana falar: - Deus te abençoe, minha filha.
Não quero mais esse nó no estômago. Não quero mais ouvir essas vozes dizendo que eu to sozinha, feia, sem rumo, ou que vou terminar sozinha. Não quero mais me sentir vazia.
Não quero somente uma agenda lotada, quero um coração lotado! Abarrotado de amor e seus derivados! Não o amor de homem-mulher, mas todos! Todos os tipos de amor, paixão.
Quero me sentir leve, voar, dormir e sonhar.
Quero que me sintam!
Quero sentir!
E quando a gente não sabe mais se ama, o que faz? E quando ta tudo tão confuso que a gente não consegue mais sentir? Não só o amor, tudo. Que vazio! Como pode? Tô vazia, nula, não sinto nada. Nada. O que é isso, Meus Deus? Por que ?
Não acho direito guardar sentimentos ruins, mágoas, raiva, tristeza, essas coisas...
Mas é que ultimamente eu não to conseguindo colocar todas essas coisas descarga a dentro. Percebo que as coisas ruins que me fizeste sentir sempre vem a tona quando pisas na bola. Acho que chamam isso de mágoa. Mas pro amor não existe mágoa. Então não amo?
Parece que aquela menina que vivia apaixonada por o que quer que seja, tirou férias. Não sei o que acontece. Só sei que quero ela de volta! Quero ela de volta!
Vazio. O amor é sempre cheio, e o vazio, o que é? A paixão também é cheia, mas o vazio o que é? O vazio, o que é?
Será que to precisando morrer um pouco? Certamente! Mas o que? Como? Tá doendo, doendo tanto.
Eu quero aquela menina boba, que se contenta com “pouco”, que sorri até pros passarinhos. Que chora com um velhinho se cai no chão.
Quero aquela Aninha que era a Princesa do Agreste do papai. Aquela que era o Pêto da Dinda. A Nêga da tia, a Miga de Isa, a Aninha que Elisa tão doce chamava... A Inha de mainha.
Volta pra mim, volta! Volta a morar em mim! Quero de volta aquele fogo queimando por aquele que te fez pensar ser a mais bonita. Quero aquela euforia só pra ir tomar sorvete ali na esquina. Aquele frio na barriga quando o telefone toca e aparece o nome de alguém esperado. Aquela lágrima nos olhos ao ouvir Dona Ana falar: - Deus te abençoe, minha filha.
Não quero mais esse nó no estômago. Não quero mais ouvir essas vozes dizendo que eu to sozinha, feia, sem rumo, ou que vou terminar sozinha. Não quero mais me sentir vazia.
Não quero somente uma agenda lotada, quero um coração lotado! Abarrotado de amor e seus derivados! Não o amor de homem-mulher, mas todos! Todos os tipos de amor, paixão.
Quero me sentir leve, voar, dormir e sonhar.
Quero que me sintam!
Quero sentir!
sábado, 8 de agosto de 2009
Paixão X Amor
A. Maria
Guerra de loucos travada sempre, em todo lugar, a qualquer hora e com quem quer que seja.
Os que se aliam ao amor, se julgam os maiores, melhores e mais imponentes. Já os que escolhem o outro lado, se julgam os mais calorosos, importantes e indispensáveis.
Caros senhores, será mesmo indispensável esse embate? Será mesmo que O Amor e A Paixão precisam disputar qualquer coisa?
Francamente creio que não. Cada um tem seu lugar, importância, valor. Não podemos em todos os casos sentir amor e paixão, ao menos, não devemos nos culpar por não sentir os dois. O fato é que as vezes vale mais a pena sentir amor, quando se trata de algo duradouro e permanente, e paixão, quando algo passageiro, mesmo que duradouro.
O que quero dizer é que para quase tudo na vida (digo quase, por medo, porque na verdade não me vem nada que não precise dela) a paixão se faz fundamental, imprescindível e desejável. Será?
Assim como existem os “tipos” de amor, deve-se haver os “tipos” de paixão.
A paixão nos faz cegos, surdos, mudos, ou falantes até de mais, nos faz sentir aquelas borboletas no estômago, nos faz crer que não viveremos sem o ser apaixonante. Ela nos deixa com a sensação de que estamos cheios do que precisávamos, nos faz querer colocar o outro num estojo de maquiagem, pra sempre carregar ele na bolsa, e não emprestar a ninguém, alegando que foi feito só pra nossa pela, numa dessas farmácias de manipulação.
Também nos deixa loucos, ela não nos permite imaginar a vida boa sem aquele ser, ela comanda nossos pensamentos, nossas roupas, os lugares que freqüentamos e as vezes até nossas companhias.
Enfim, são tantos os caminhos a que essa senhorita, tão recatada na frente da mãe e devassa pelas costas consegue nos levar, que passaria anos aqui descrevendo, e sempre faltaria algum.
Alguns dizem que vale mais ouvir e dizer “sou apaixonado por você” outros preferem o lugar-comum “amo você”.
Por que não... por que não os dois? Sim os dois!
O amor, nos traz calma, tranqüilidade, serenidade, e todas essas sensações, como uma banheira morna e a voz de Marisa Monte depois de um dia infernal. Ele nos faz nobres, fortes, e imponentes perante a sociedade e o espelho.
É isso! O amor é como o espelho, ele mostra, a paixão como o vidro, nos deixa ver. Mas só o outro, não o mundo, só o outro.
O amor nos faz dormir e sonhar com as nuvens, ou nem sonhar, simplesmente dormir. Já a paixão, nos tira o sono e quando conseguimos vencer esse entrave, ela ainda nos faz sonhar com panelas de brigadeiro e quando acordamos corremos em busca dessa panela e nos empanturramos até ficarmos com a sensação de que tudo passou e estamos bem.
Dizem que o amor supera tudo, sim, eu creio. Mas creio também que é preciso paixão.
Para o amor crescer, e permanecer, é preciso aduba-lo com a paixão, é preciso água-lo com paixão, é preciso se apaixonar.
Ouvi dizer que se quisermos encontrar a felicidade de amar, temos de esquecer nossas almas, ele me disse que as almas são incomunicáveis, estragam o amor e só em Deus podem encontrar satisfação. E disse ainda que para conhecermos a arte de amar, devemos deixar nossos corpos se entenderem, por que eles se entendem, mas as almas não.
Ora, se não somos nem só corpo, nem só alma, precisamos aprender não só a arte de amar, como foi descrita e ensinada a cima, por Manuel, mas precisamos aprender também a arte de apaixonar, que tão bem Vinícius me ensinou, rasgando o coração mesmo, sem medo das feridas e outros contratempos.
E então quando finalmente possuirmos habilidades para as duas, estaremos completos, unidos, atados e firmes.
Precisamos nos dar a vida, ao amor e a paixão. Precisamos encontrar alguém que possamos escrever todos os dias em sua pele e que só ele consiga ler ao olhar no espelho, e que também todas as noites apague para que não cessemos de escrever nele. E que ninguém possa ler, e que ninguém precise entender, só eu e ele.
Quando enfim, encontrar alguém que consiga enxergar que o amor é o tempero da vida, e a paixão o do amor.
Essa guerra que carregamos em nós, terá fim.
Guerra de loucos travada sempre, em todo lugar, a qualquer hora e com quem quer que seja.
Os que se aliam ao amor, se julgam os maiores, melhores e mais imponentes. Já os que escolhem o outro lado, se julgam os mais calorosos, importantes e indispensáveis.
Caros senhores, será mesmo indispensável esse embate? Será mesmo que O Amor e A Paixão precisam disputar qualquer coisa?
Francamente creio que não. Cada um tem seu lugar, importância, valor. Não podemos em todos os casos sentir amor e paixão, ao menos, não devemos nos culpar por não sentir os dois. O fato é que as vezes vale mais a pena sentir amor, quando se trata de algo duradouro e permanente, e paixão, quando algo passageiro, mesmo que duradouro.
O que quero dizer é que para quase tudo na vida (digo quase, por medo, porque na verdade não me vem nada que não precise dela) a paixão se faz fundamental, imprescindível e desejável. Será?
Assim como existem os “tipos” de amor, deve-se haver os “tipos” de paixão.
A paixão nos faz cegos, surdos, mudos, ou falantes até de mais, nos faz sentir aquelas borboletas no estômago, nos faz crer que não viveremos sem o ser apaixonante. Ela nos deixa com a sensação de que estamos cheios do que precisávamos, nos faz querer colocar o outro num estojo de maquiagem, pra sempre carregar ele na bolsa, e não emprestar a ninguém, alegando que foi feito só pra nossa pela, numa dessas farmácias de manipulação.
Também nos deixa loucos, ela não nos permite imaginar a vida boa sem aquele ser, ela comanda nossos pensamentos, nossas roupas, os lugares que freqüentamos e as vezes até nossas companhias.
Enfim, são tantos os caminhos a que essa senhorita, tão recatada na frente da mãe e devassa pelas costas consegue nos levar, que passaria anos aqui descrevendo, e sempre faltaria algum.
Alguns dizem que vale mais ouvir e dizer “sou apaixonado por você” outros preferem o lugar-comum “amo você”.
Por que não... por que não os dois? Sim os dois!
O amor, nos traz calma, tranqüilidade, serenidade, e todas essas sensações, como uma banheira morna e a voz de Marisa Monte depois de um dia infernal. Ele nos faz nobres, fortes, e imponentes perante a sociedade e o espelho.
É isso! O amor é como o espelho, ele mostra, a paixão como o vidro, nos deixa ver. Mas só o outro, não o mundo, só o outro.
O amor nos faz dormir e sonhar com as nuvens, ou nem sonhar, simplesmente dormir. Já a paixão, nos tira o sono e quando conseguimos vencer esse entrave, ela ainda nos faz sonhar com panelas de brigadeiro e quando acordamos corremos em busca dessa panela e nos empanturramos até ficarmos com a sensação de que tudo passou e estamos bem.
Dizem que o amor supera tudo, sim, eu creio. Mas creio também que é preciso paixão.
Para o amor crescer, e permanecer, é preciso aduba-lo com a paixão, é preciso água-lo com paixão, é preciso se apaixonar.
Ouvi dizer que se quisermos encontrar a felicidade de amar, temos de esquecer nossas almas, ele me disse que as almas são incomunicáveis, estragam o amor e só em Deus podem encontrar satisfação. E disse ainda que para conhecermos a arte de amar, devemos deixar nossos corpos se entenderem, por que eles se entendem, mas as almas não.
Ora, se não somos nem só corpo, nem só alma, precisamos aprender não só a arte de amar, como foi descrita e ensinada a cima, por Manuel, mas precisamos aprender também a arte de apaixonar, que tão bem Vinícius me ensinou, rasgando o coração mesmo, sem medo das feridas e outros contratempos.
E então quando finalmente possuirmos habilidades para as duas, estaremos completos, unidos, atados e firmes.
Precisamos nos dar a vida, ao amor e a paixão. Precisamos encontrar alguém que possamos escrever todos os dias em sua pele e que só ele consiga ler ao olhar no espelho, e que também todas as noites apague para que não cessemos de escrever nele. E que ninguém possa ler, e que ninguém precise entender, só eu e ele.
Quando enfim, encontrar alguém que consiga enxergar que o amor é o tempero da vida, e a paixão o do amor.
Essa guerra que carregamos em nós, terá fim.
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
I carry your heart (I carry it in my heart)
A. Elisa
Foi lendo os textos de Cummings que eu começei a vasculhar dentro do meu coração à procura do que eu guardava ali dentro. Na prateleira mais alta, da estante mais bonita, tenho guardado a minha família, com medalhas de ouro por cada feito que presenciei ao longo da vida. Por entre as prateleiras mais baixas, estavam primos, tios, avós e padrinhos. Todos bem arrumadinhos e sempre lustrosos; pra esses sempre tive o cuidado de toda a semana limpar e nunca deixar que nada, nem ninguém passassem ali por perto. Ao lado dessa grande estante, tenho uma menor, mas não menos importante, onde guardo os meus amigos. São três prateleiras e constantemente mudo a ordem deles, de acordo com a nossa aproximação. Mas nunca, nunca mesmo, deixo que eles caiam no chão. Não vou negar que já joguei alguns no lixo, ou que existem outros que há muitos anos estão encostados lá no fundo da prateleira, cheios de poeira, só não deixo de admitir a importância que tais pessoas tiveram em algum ponto da minha vida. Em uma prateleira bem pequena, encostada atrás da porta de entrada, guardo os meus antigos amores, aqueles que se foram por minha vontade ou contra ela. Deixo atrás da porta, como guardiões de outras pessoas, que pretendam entrar no meu coração, como uma eterna lembrança na minha vida, do que deu certo e do que deu errado, para que assim eu não repita os mesmos erros com tanta freqüência. Mas o estranho é que tem pessoas que, por mais que eu tente jogar fora, por mais que eu troque a fechadura e tranque do lado de fora, conseguem voltar. Você, atualmente é a única pessoa que consegue fazer isso. Acho que talvez seja porque há muito tempo que você mora no meu coração. Tanto tempo que eu nem sei dizer quanto. O que aconteceu era que você vivia sempre escondido entre meus outros amores, ou no fundo da estante dos amigos e familiares. Cheguei às vezes a te confundir como primo, de tanto tempo que você passava junto com a minha família. Aí de uma hora pra outra, depois de algumas palavras trocadas, encontro você na prateleira dos meus amores, todo feliz e com o peito estufado, pelo grande feito almejado. E eu fiquei me perguntando como você chegou ali, fiquei me questionando quem tinha te colocado naquele local. Então eu percebi que você sempre esteve ali, mas disfarçava passeando de vez em quando por entre as outras prateleiras, ou se escondendo bem no fundo da prateleira dos amores. Foi aí que começou a nossa briga, já sabendo o final que tudo isso ia dar, desde o início fiz de tudo pra te por pra fora do meu coração. Me matriculei em mais cadeiras na faculdade, sai mais com meus amigos, tudo pra não ter tempo de pensar em você, pra não ver você voltar lá pra dentro. Sem que eu descobrisse, você sempre voltava, e cada vez mais forte, ciumento. E foi aí que eu perdi a paciência, comecei a te chutar pelo chão, a te humilhar, e a falar mal de você pra ver se você saia de vez do meu coração e nada adiantou. Hoje eu já me acostumei com a tua presença, te coloquei numa redoma de vidro e te pintei de dourado, desisti de desistir de você. E apesar de estarmos sós, você por aí e eu por aqui, você continua no meu coração e não tem palavra nem ação que te tire daqui, porque agora quem não quer que você saia sou eu.
Foi lendo os textos de Cummings que eu começei a vasculhar dentro do meu coração à procura do que eu guardava ali dentro. Na prateleira mais alta, da estante mais bonita, tenho guardado a minha família, com medalhas de ouro por cada feito que presenciei ao longo da vida. Por entre as prateleiras mais baixas, estavam primos, tios, avós e padrinhos. Todos bem arrumadinhos e sempre lustrosos; pra esses sempre tive o cuidado de toda a semana limpar e nunca deixar que nada, nem ninguém passassem ali por perto. Ao lado dessa grande estante, tenho uma menor, mas não menos importante, onde guardo os meus amigos. São três prateleiras e constantemente mudo a ordem deles, de acordo com a nossa aproximação. Mas nunca, nunca mesmo, deixo que eles caiam no chão. Não vou negar que já joguei alguns no lixo, ou que existem outros que há muitos anos estão encostados lá no fundo da prateleira, cheios de poeira, só não deixo de admitir a importância que tais pessoas tiveram em algum ponto da minha vida. Em uma prateleira bem pequena, encostada atrás da porta de entrada, guardo os meus antigos amores, aqueles que se foram por minha vontade ou contra ela. Deixo atrás da porta, como guardiões de outras pessoas, que pretendam entrar no meu coração, como uma eterna lembrança na minha vida, do que deu certo e do que deu errado, para que assim eu não repita os mesmos erros com tanta freqüência. Mas o estranho é que tem pessoas que, por mais que eu tente jogar fora, por mais que eu troque a fechadura e tranque do lado de fora, conseguem voltar. Você, atualmente é a única pessoa que consegue fazer isso. Acho que talvez seja porque há muito tempo que você mora no meu coração. Tanto tempo que eu nem sei dizer quanto. O que aconteceu era que você vivia sempre escondido entre meus outros amores, ou no fundo da estante dos amigos e familiares. Cheguei às vezes a te confundir como primo, de tanto tempo que você passava junto com a minha família. Aí de uma hora pra outra, depois de algumas palavras trocadas, encontro você na prateleira dos meus amores, todo feliz e com o peito estufado, pelo grande feito almejado. E eu fiquei me perguntando como você chegou ali, fiquei me questionando quem tinha te colocado naquele local. Então eu percebi que você sempre esteve ali, mas disfarçava passeando de vez em quando por entre as outras prateleiras, ou se escondendo bem no fundo da prateleira dos amores. Foi aí que começou a nossa briga, já sabendo o final que tudo isso ia dar, desde o início fiz de tudo pra te por pra fora do meu coração. Me matriculei em mais cadeiras na faculdade, sai mais com meus amigos, tudo pra não ter tempo de pensar em você, pra não ver você voltar lá pra dentro. Sem que eu descobrisse, você sempre voltava, e cada vez mais forte, ciumento. E foi aí que eu perdi a paciência, comecei a te chutar pelo chão, a te humilhar, e a falar mal de você pra ver se você saia de vez do meu coração e nada adiantou. Hoje eu já me acostumei com a tua presença, te coloquei numa redoma de vidro e te pintei de dourado, desisti de desistir de você. E apesar de estarmos sós, você por aí e eu por aqui, você continua no meu coração e não tem palavra nem ação que te tire daqui, porque agora quem não quer que você saia sou eu.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
O amor é interesseiro
A. Elisa
A mim parece que o amor é egoísta. Não amamos a pessoa com quem estamos, simplesmente amamos como nos sentimos quando estamos com uma pessoa. Amamos as borboletas no estômago, as mãos suando, a sensação de flutuar no chão e a dor na mandíbula de passar o dia todo com um sorriso no rosto. O amor é egoísta porque só se gosta de alguém porque esse alguém transforma você de alguma maneira que faz de você uma pessoa melhor, mais leve. E essa sensação é tão boa que acabamos esquecendo do resto do mundo, ignoramos os amigos, inventamos desculpas para as reuniões familiares e deixamos de estudar. Não porque gostamos da pessoa, mas porque gostamos da sensação que essa pessoa nos proporciona. E essa sensação faz você acreditar que somente com esse alguém sua vida será melhor. O amor gosta mesmo é do desconhecido, porque o conhecido não te dá desejo e o amor só funciona com desejo. Desejo de ver de novo, desejo de conversar mais sobre se o homem pisou ou não na lua, desejo de sentir o cheiro e de beijar. O amor é desejo, e essa vontade é o nosso corpo expressando o bem que essa pessoa nos dá. O amor é egoísta porque você não fica com uma pessoa se somente ela gostar de você, porque o amor dela não te atinge. Engana-se quem pensa que o amor é altruísta. Não me levem a mal, é bom saber que alguém ama você, mas é melhor ainda amar, concordam? Quando você ama nada importa, ninguém mais te interessa, porque você está repleto, esse alguém te proporciona sensações tão estranhas e novas que você esquece do mundo. Viram? É sempre eu, eu, eu. Amar é sempre sobre aquilo que nos é proporcionado e nunca sobre o que nós proporcionamos. E por isso é que gostamos de falar sobre ele e não nos cansamos nunca. Não precisa ser sempre amor homem-mulher, pode ser amor pelo novo trabalho, pelo cachorro do vizinho ou por um novo par de sapatos, mas é sempre amor. Porque, no final das contas, é a sensação que essas coisas nos proporcionam que nos faz falar de amor e não o contrário. O amor é interesseiro porque simplesmente quer guardar tudo que sente dentro de um lugar especial no coração de um jeito que nunca acabe, mesmo já sabendo, desde o início, que está fadado a morrer.
E se outros me disserem que falo sobre paixão, respondo que sim. E peço desculpas se o meu coração me enganou e confudi o que devia ser passageiro com o duradouro. Mas é que comigo é tudo tão intenso que desde as primeiras borboletas me torno egoísta e declaro ao mundo que amo. E como amo!
A mim parece que o amor é egoísta. Não amamos a pessoa com quem estamos, simplesmente amamos como nos sentimos quando estamos com uma pessoa. Amamos as borboletas no estômago, as mãos suando, a sensação de flutuar no chão e a dor na mandíbula de passar o dia todo com um sorriso no rosto. O amor é egoísta porque só se gosta de alguém porque esse alguém transforma você de alguma maneira que faz de você uma pessoa melhor, mais leve. E essa sensação é tão boa que acabamos esquecendo do resto do mundo, ignoramos os amigos, inventamos desculpas para as reuniões familiares e deixamos de estudar. Não porque gostamos da pessoa, mas porque gostamos da sensação que essa pessoa nos proporciona. E essa sensação faz você acreditar que somente com esse alguém sua vida será melhor. O amor gosta mesmo é do desconhecido, porque o conhecido não te dá desejo e o amor só funciona com desejo. Desejo de ver de novo, desejo de conversar mais sobre se o homem pisou ou não na lua, desejo de sentir o cheiro e de beijar. O amor é desejo, e essa vontade é o nosso corpo expressando o bem que essa pessoa nos dá. O amor é egoísta porque você não fica com uma pessoa se somente ela gostar de você, porque o amor dela não te atinge. Engana-se quem pensa que o amor é altruísta. Não me levem a mal, é bom saber que alguém ama você, mas é melhor ainda amar, concordam? Quando você ama nada importa, ninguém mais te interessa, porque você está repleto, esse alguém te proporciona sensações tão estranhas e novas que você esquece do mundo. Viram? É sempre eu, eu, eu. Amar é sempre sobre aquilo que nos é proporcionado e nunca sobre o que nós proporcionamos. E por isso é que gostamos de falar sobre ele e não nos cansamos nunca. Não precisa ser sempre amor homem-mulher, pode ser amor pelo novo trabalho, pelo cachorro do vizinho ou por um novo par de sapatos, mas é sempre amor. Porque, no final das contas, é a sensação que essas coisas nos proporcionam que nos faz falar de amor e não o contrário. O amor é interesseiro porque simplesmente quer guardar tudo que sente dentro de um lugar especial no coração de um jeito que nunca acabe, mesmo já sabendo, desde o início, que está fadado a morrer.
E se outros me disserem que falo sobre paixão, respondo que sim. E peço desculpas se o meu coração me enganou e confudi o que devia ser passageiro com o duradouro. Mas é que comigo é tudo tão intenso que desde as primeiras borboletas me torno egoísta e declaro ao mundo que amo. E como amo!
domingo, 2 de agosto de 2009
O que me parece.
A. Maria
A mim? Parece se não mais uma das inúmeras explicações que se tenta dar a cerca de tal sentimento, deus, ser, magia, loucura, e tudo o mais a que ele nos leva.
Acredito, na verdade, não ser nada disso, ele é somente o que nos leva ao que quer que seja, e nos leva a crer que o é.
É o absurdo, fenômeno sem explicação, e se não tem explicação não tem nome. Não tem nada e nos leva a tudo. Não está em lugar algum e nos leva a qualquer lugar. Não é, mas nos faz.
Sim, sou sim feita, mandada e comandada por isso aí que falei a pouco, e deve ser mesmo por isso, que às vezes me sinto perdida, sem norte, sul, leste nem oeste, já que ele às vezes também consegue me levar a lugar nenhum, assim como de costume me leva a todos os lugares.
Freqüentemente olho em volta e não identifico onde estou ou com quem estou, nem sei mesmo onde piso. Mas se por ventura a calma me acompanha nessa viagem, consigo capturar do nada mais um pouco do que me faço, uma partícula do novo ser que passo a ser. E quando consigo realizar essa conquista, volto para o nosso mundo mais completa, mas cheia de mim, de você, de nós, de tudo e de todo o resto.
A busca por esses momentos no vazio é o que me faz viva, o que me ajuda a respirar, o que me faz olhar em volta, em tudo o que me rodeia, ou melhor, em todos que carregam no peito o suspiro, o vulto do absurdo, aquele por vezes chamado de amor. Mas não entendas como peito somente essa carne, parte de nosso corpo. Não. Nada do que lês aqui tem como significado somente o que consta naquele livro inútil chamado dicionário, que a ele recorremos tantas vezes para saber o que é aquilo. Devemos, sobretudo saber que aquilo que discorreram ali é somente o que alguém quis que tal coisa fosse. E sendo assim, o peito de que te falei pode ser feito de ar, areia, clorofila, tinta, sangue ou nada. É o peito que não vês, mas que tenho bem aqui em mim, não sei ao certo onde, mas pode ser que esteja mesmo por trás desse mamilo que podes ver.
E é aqui em meu peito que tenho um pouco do que quero ter. Tenho acúmulos de sentimentos e momentos que me proporcionaram o absurdo. É aqui onde guardo um pouco de ti que roubei para mim, é aqui o lugar mais cheio e mais vazio de você, de mim e do que mais passar. É aqui onde certamente mora a verdadeira explicação a cerca do que é o absurdo.
É isso. É isso o que me parece e o que procuro parecer. É tudo e nada, cheio e vazio.
E então, que te parece?
A mim? Parece se não mais uma das inúmeras explicações que se tenta dar a cerca de tal sentimento, deus, ser, magia, loucura, e tudo o mais a que ele nos leva.
Acredito, na verdade, não ser nada disso, ele é somente o que nos leva ao que quer que seja, e nos leva a crer que o é.
É o absurdo, fenômeno sem explicação, e se não tem explicação não tem nome. Não tem nada e nos leva a tudo. Não está em lugar algum e nos leva a qualquer lugar. Não é, mas nos faz.
Sim, sou sim feita, mandada e comandada por isso aí que falei a pouco, e deve ser mesmo por isso, que às vezes me sinto perdida, sem norte, sul, leste nem oeste, já que ele às vezes também consegue me levar a lugar nenhum, assim como de costume me leva a todos os lugares.
Freqüentemente olho em volta e não identifico onde estou ou com quem estou, nem sei mesmo onde piso. Mas se por ventura a calma me acompanha nessa viagem, consigo capturar do nada mais um pouco do que me faço, uma partícula do novo ser que passo a ser. E quando consigo realizar essa conquista, volto para o nosso mundo mais completa, mas cheia de mim, de você, de nós, de tudo e de todo o resto.
A busca por esses momentos no vazio é o que me faz viva, o que me ajuda a respirar, o que me faz olhar em volta, em tudo o que me rodeia, ou melhor, em todos que carregam no peito o suspiro, o vulto do absurdo, aquele por vezes chamado de amor. Mas não entendas como peito somente essa carne, parte de nosso corpo. Não. Nada do que lês aqui tem como significado somente o que consta naquele livro inútil chamado dicionário, que a ele recorremos tantas vezes para saber o que é aquilo. Devemos, sobretudo saber que aquilo que discorreram ali é somente o que alguém quis que tal coisa fosse. E sendo assim, o peito de que te falei pode ser feito de ar, areia, clorofila, tinta, sangue ou nada. É o peito que não vês, mas que tenho bem aqui em mim, não sei ao certo onde, mas pode ser que esteja mesmo por trás desse mamilo que podes ver.
E é aqui em meu peito que tenho um pouco do que quero ter. Tenho acúmulos de sentimentos e momentos que me proporcionaram o absurdo. É aqui onde guardo um pouco de ti que roubei para mim, é aqui o lugar mais cheio e mais vazio de você, de mim e do que mais passar. É aqui onde certamente mora a verdadeira explicação a cerca do que é o absurdo.
É isso. É isso o que me parece e o que procuro parecer. É tudo e nada, cheio e vazio.
E então, que te parece?
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