sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Já disse que as metáforas são perigosas

A. Elisa

Eu decidi te esperar. Na verdade, eu nem sei se você vai voltar mesmo, mas aí, hoje, acordei, e decidi que iria arriscar. Porque por mais que eu saia por aí, me divirta, conheça outras pessoas e até me apaixone de vez em quando, é em você que eu penso antes de dormir e é em você que eu me inspiro para escrever esses textos. Passei duas semanas sem escrever, duas semanas que a vida estava tão corrida, que nem tempo pra pensar em você eu tive. Aí chegou aquela bendita sexta-feira, aquele dia que sempre me faz pensar em você, não sei por quê. Desde que você foi embora, toda sexta-feira eu fico ruim e só começo a melhorar no domingo. Acho que é a síndrome do fim de semana.

Hoje quando eu decidi te esperar, pensei em você chegando com seu chapéu de palha e sua barba por fazer, pensei naquele seu riso de olhinho de lado e no jeito como você comparava o tamanho das nossas mãos. Lembrando tudo isso, eu decidi te esperar. Não sei o que vai acontecer com a gente quando você voltar, mas eu vou estar aqui do mesmo jeito, esperando alguma atitude sua. Quando você voltar, meu cabelo já vai ter crescido uns cinco centímetros e os quilos que eu perdi nas férias, já os terei de volta. Dependendo da hora que você voltar, talvez eu esteja trabalhando naquela sonhada revista que eu assino, só pra sentir que também faço parte dela. Quando você voltar, talvez eu já tenha terminado de ler Grande Sertão: Veredas, para finalmente poder te explicar a grandiosidade desse livro. No dia em que você chegar, eu vou te contar, toda orgulhosa, que aprendi a comer sushi e que também perdi o medo de andar de bicicleta. Quando você voltar, eu finalmente vou esquecer do barulho infernal, que a obra aqui do lado faz todo dia de manhã, e vou começar a ouvir o bem-te-vi, que na minha janela pousa de madrugada. Ah, porque quando você voltar, eu já estarei acordando cedo pra ir caminhar na Jaqueira! Eu também espero que quando você voltar, eu finalmente tenha trocado a lâmpada do meu banheiro, que insiste em ficar piscando toda vez que eu ligo o chuveiro quente. Melhor ainda, quero deixar de tomar banho quente, só porque você vivia me dizendo que faz mal para a pele, e que não quer estar com alguém de vinte e poucos anos com pele de quarenta. Quando você voltar, eu já vou ter separado uma gaveta só para as tuas roupas, o teu Playstation, e a segunda temporada de House, que você vai deixar aqui, até eu gostar de assistir contigo. Espero também que quando você voltar, já consiga ver um filme inteiro sem dormir, porque é um saco ter que te explicar tudo, toda vez que a gente sai do cinema.

Mas pensando bem, quando você voltar, mesmo que você volte do mesmo jeito que você veio da última vez, eu vou te querer. E mesmo que você não me procure, eu vou te procurar, só pra ter a certeza que você voltou, só pra você saber, que mesmo sem eu nunca ter prometido te esperar, eu te esperei. Porque pior do que saber que você não me quer, é saber que você nunca mais vai voltar.

3 comentários:

  1. Confesso que só agora li. Talvez só agora esteja retomando minha jornada, e aqui, nossa jornada.
    Ficou lindo, lindo esse texto.
    O melhor retrato para nossa espera.

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  2. E o que mais dói é isso. Saber que não adianta eu começar a pensar antes de falar, não adianta eu parar de rever episodios de gilmore girls antes de dormir, não adianta eu conhecer toda a filmografia de woody allen de có, não adianta nem eu querer ser igual a ela, porque ele não vai voltar.

    texto lindo, Elisa.
    mexeu que só com esse meu prato de papa que eu chamo de coração.

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  3. Para 'Nathália.': não existe essa expressão "de có". Acho que você quis dizer "de cor", que vem do verbo decorar. É isso!

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