segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Lambanças

A. Elisa

É chato ter que lembrar de você toda vez que aquela música do Oasis toca, até porque ela toca toda vez na rádio, que eu escuto no caminho para as aulas de inglês, todo sábado. Também detesto ter que lembrar de você todo fim de tarde de sexta-feira, quando você me ligava dizendo, que estava com saudades e querendo sair para comer, aquela pizza, que eu não curto muito, porque a massa é fofa e, principalmente, porque você sempre pede borda de catupiry, que eu detesto. Nisso, já são dois dias da semana que eu penso em você.

Ainda lembro de você, quando passo numa banca de revista e vejo as de Sudoku, que você adorava fazer enquanto eu demorava horas escolhendo uma roupa para sair. Teu rosto me vem na cabeça, quando eu vou naquele bar, que a gente freqüentava e vejo, que alguém pediu aquela bendita caipiroska, que me fez dizer “eu te amo”, na segunda vez que a gente saiu juntos. Lembro do teu rosto, ao mesmo tempo feliz e confuso, lembro também do dia seguinte, quando a gente acordou junto e você me disse, bem baixinho “eu também”, e eu senti, que o mundo podia acabar, porque eu já tinha ali, do meu lado, tudo o que eu queria pra ser feliz.

E assim a semana vai passando, e eu vou encontrando motivos pra lembrar de você todos os dias, por quase todos os minutos e é um saco isso! Eu queria poder ouvir Oasis sem lembrar do teu cheiro. Queria poder sair na sexta com meus amigos e não pensar das vezes que eu voltava pra casa morrendo de fome, porque me recusava a comer da mesma pizza de sempre, e aí você ficava com pena de mim e me comprava um Big Mac.

Quero poder comprar minhas revistas sem lembrar dos teus gostos, quero poder me arrumar sem pensar na cara, que você fazia quando eu trocava de roupa pela quinta vez. Quero dormir sem pensar no teu “eu também”, e quero acordar sem procurar com a minha mão a tua barriga, que eu gostava tanto de acariciar. Quero os dias da minha semana de volta. Quero a minha vida de volta. Quero que você saia dela e arranje outra cabeça para atormentar. Quero me esquecer de você, mas sobretudo, quero que meu corpo te esqueça.

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